Enquanto a Igreja Católica enfrenta diversos escândalos por casos de pedofilia, os escoteiros americanos enfrentam a justiça de Portland (Estado de Washington, noroeste do país), acusados de encobrir durante décadas os abusos sexuais cometidos por seus líderes.
Um processo iniciado em meados de março e que ainda deve durar duas semanas coloca o foco sobre os Boy Scouts of America (BSA), organização da qual um homem de 37 anos exige US$ 29 milhões por ter mantido - segundo ele - os braços cruzados diante dos abusos sexuais contra diversas crianças e adolescentes.
O homem, cuja identidade é mantida em segredo e que usa o pseudônimo de Jack Doe, é uma das vítimas de Timur Dykes, um ex-líder dos escoteiros do estado de Oregon, condenado três vezes por pedofilia.
Os escoteiros já foram levados à Justiça americana - e condenados - em diversas oportunidades, mas este processo tem uma dimensão particular pois ocorre no momento em que os "escândalos de abusos sexuais na Igreja Católica são notícia", afirma Patrick Boyle, editor do site youthtoday.com e autor de um livro sobre os escândalos sexuais na organização escoteira americana.
"Isso mostra ao público até que ponto os abusos sexuais atingem algumas instituições e organizações e como estas ocultaram (os fatos) durante anos", disse.
A grande novidade desse julgamento é que obrigou a organização de escoteiros, que comemora em 2010 cem anos de existência, a divulgar os arquivos nos quais há provas dos abusos sexuais registrados pela organização.
Fatos que não tinham saído dos arquivos dos escoteiros há mais de 20 anos e que afetam "milhares" de vítimas, segundo Boyle. "Os arquivos foram criados há quase um século. Mostrando que os dirigentes escoteiros sabiam quantas crianças tinham sido abusadas, como os violadores burlaram a organização para estar em contato com as crianças, e os locais onde os abusos ocorreram", explica.
Extremamente prudente, a direção central dos escoteiros, com sede no Texas, limitou-se a divulgar um comunicado afirmando: "lamentavelmente, os abusos (sexuais) de crianças são um problema da sociedade e não existe nenhum método infalível para reconhecer um potencial violador". O comunicado foi publicado no site da organização (www.scouting.org).
Consultado pela Agência France Presse, o advogado de Jack Doe, Kelly Clark, não fez comentários, mas em seu site (www.boyscoutabuse.com) afirma que certas vítimas podem ter "sentimento de culpa na hora de atacar uma organização que muitos consideram positiva e onde a lealdade é um dos valores fundamentais".
"É deprimente ver que a organização não admite que tem um problema específico com o abuso sexual", lamentou Boyle. "Espero que um dia peguem as provas e entreguem a um investigador" para que possam modificar sua organização e coloque fim aos abusos. "Pelo menos a Igreja Católica pediu a um grupo de especialistas que investigasse os abusos sexuais em seus quadros", completou.