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ONU divulgará informe sobre morte de Benazir Bhutto no dia 15 de abril

As Nações Unidas decidiram adiar para o dia 15 de abril um relatório sobre a morte da ex-primeira-ministra do Paquistão, Benazir Bhutto, por solicitação de Islamabad, temendo o clima de comoção que o informe causaria no país. A investigação, a cargo de uma comissão independente selecionada pela ONU, começou no dia 1; de julho passado.

Uma funcionária da ONU em Islamabad, Ishrat Rizvi, havia informado na manhã desta terça-feira que todos os escritórios da ONU no Paquistão ficariam fechados durante três dias, a partir de amanhã, quarta-feira, por medida de segurança, devido à expectativa do relatório. "Trata-se de medida de precaução, para evitar quaisquer acontecimentos não desejados", acrescentou.

A comissão de investigação, composta de três membros, é encarregada de "investigar os fatos e as circunstâncias do assassinato"; não determinar "a responsabilidade criminal dos autores", o que cabe, apenas, às autoridades paquistanesas, explicou.

O grupo é dirigido pelo embaixador do Chile na ONU, Heraldo Munoz. Seus dois outros membros são o ex-procurador-geral indonésio Marzuki Darusman, e Peter Fitzgerald, um ex-chefe de polícia irlandês. Benazir Bhutto, primeira-ministra por duas vezes, nos anos 1990, foi assassinada no dia 27 de dezembro de 2007, durante um comício eleitoral em Rawalpindi, no subúrbio de Islamabad.

Quando saudava a multidão, com parte do corpo do lado de fora de seu carro blindado, um homem abriu fogo contra ela, acionando em seguida a bomba que levava consigo. Bhutto, 54 anos, nasceu em Karachi em 21 de junho de 1953, herdeira de uma poderosa dinastia de latifundiários. Era a mais velha de quatro irmãos, filhos de pai ocidentalizado e mãe iraniana xiita.

O pai de Benazir, Zulfiqar Ali Bhutto, primeiro chefe de governo populista do Paquistão, foi deposto em um golpe de Estado e enforcado pelo ditador militar Zia-ul-Haq em 1979. Após freqüentar escolas religiosas no Paquistão, estudou em Oxford (Inglaterra), tornando-se a primeira mulher asiática a dirigir a prestigiada sociedade de debates Oxford Union.

Benazir voltou a seu país natal em 1977, quando seu pai era primeiro-ministro. Pouco depois, Zulfiqar Ali Bhutto foi derrubado pelo general Zia, que prendeu toda a família, Em 4 de abril de 1979, o primeiro-ministro deposto foi executado pelo novo regime.

A ex-primeira-ministra ficou presa até 1984, quando Zia permitiu que ela viajasse na Inglaterra, onde se tornou líder no exílio do Partido do Povo do Paquistão (PPK), fundado por seu pai. A família recebeu o golpe de uma nova tragédia em 1985, quando Shah Nawaz, irmão de Benazir, morreu envenenado em seu apartamento no sul da França.

Em abril de 1986, Benazir entrou no jogo de poder quando voltou para a cidade de Lahore (leste). No ano seguinte, aceitou um casamento arranjado com o empresário Asif Ali Zardari, com quem teve três filhos. A vingança - e o caminho para o governo - chegaram em 17 de agosto de 1988, quando Zia morreu em um misterioso acidente de avião. Em meses, o partido de Benazir venceu as eleições, e no dia 2 de dezembro ela assumiu como primeira-ministra aos 35 anos.

Seu governo, no entanto, foi dissolvido em 1990 por acusações de corrupção, que ela sempre negou. Benazir foi substituída por Nawaz Sharif, homem que Pervez Musharraf logo derrotaria. Apesar da reeleição em 1993, três anos depois foi forçada a deixar o cargo novamente pelo então presidente, Farooq Leghari, por novas acusações de corrupção.

Sua queda aconteceu apenas algumas semanas depois que seu irmão Murtaza, acusado de envolvimento em atividades terroristas, foi morto a tiros em Karachi.

O marido de Benazir foi preso em 1996 após ter sido acusado de vários delitos - para ser liberado em 2004 -, enquanto a ex-primeira-ministra voava para um exílio voluntário em abril de 1999. Desde então, Benazir atacou Musharraf e se apresentou como solução à luta do Paquistão contra os militantes islâmicos, mas durante meses manteve conversações secretas com o presidente para dividir o poder.

Musharraf acabou anulando as acusações de corrupção contra ela em 5 de outubro, após um polêmico acordo de anistia, que possibilitou sua volta ao país.