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Nos EUA, grupos condenam postura do presidente de não criticar o governo de Raúl Castro

As declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que comparou os presos políticos de Cuba a presos comuns no Brasil, causaram mais repercussão ontem, sobretudo pela decisão do jornalista cubano, Guillermo Fariñas, de continuar sua greve de fome, iniciada há 16 dias, em memória do dissidente Orlando Zapata. Fariñas, que reivindica no protesto a libertação de 26 presos políticos, está internado desde quinta-feira na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital de Santa Clara, 280km a leste de Havana.

Grupos de sindicalistas cubano-americanos do sul da Flórida (EUA) qualificaram ontem de ;cínica; a atitude de Lula de não criticar o governo de Raúl Castro. ;Lula optou por uma posição hipócrita e repudiável a respeito da morte de Zapata após sua greve de fome, por isso pedimos a nossos irmãos sindicalistas brasileiros para que se unam a esta condenação;, diz o comunicado. Os líderes sindicais criticaram o fato de Lula ter visitado Havana e se reunido com os irmãos Castro em um ;momento de luto para o povo cubano; pela morte de Zapata ; que faleceu depois de 85 dias em greve de fome. Segundo eles, há ;restrições; à liberdade sindical e aos direitos políticos, assim como a falta de liberdade de expressão e de ;difusão do pensamento;.

Insulto

O presidente internacional do Projeto dos Grandes Primatas (GAP), o microbiologista Pedro Ynterian ; preso em 1961 pelo regime de Fidel Castro, também se ofendeu com a declaração de Lula. Em carta intitulada ;Eu sou um bandido!”, o empresário naturalizado brasileiro diz que é um ex-prisioneiro político e considera ;um insulto; comparar a condição de presos comuns com a de Zapata. ;Desde os 16 anos lutei contra a ditadura de (Fulgencio) Batista e anos depois tive que lutar contra a dos irmãos Castro, amigos fraternos do nosso presidente (Lula);, completou Ynterian.

Fariñas, por sua vez, pediu ao polonês Lech Walesa ; líder histórico do sindicato Solidaridad, para depositar uma coroa de flores em sua tumba ;quando Cuba for livre;. Walesa e Fariñas conversaram por telefone na quinta-feira, horas antes de o jornalista cubano ser hospitalizado. ;Fiquei muito impressionado, eu tentei convencê-lo a interromper a greve. Disse que para construir uma Cuba livre é preciso gente como ele, viva;, disse Walesa. A porta-voz do hospital, Licet Zamora, acredita que Fariñas pode estar sofrendo uma ;complicação renal;, pois não urina desde que foi internado. Os médicos dizem que o estado de saúde de Fariña é ;grave, mas estável;.