Dois dias depois do terremoto que abalou o Chile e matou pelo menos 723 pessoas, a presidenta Michelle Bachelet anunciou que aceitará ajuda internacional para a reconstrução do país. O pedido oficial de assistência foi feito ao Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (Ocha). No sábado, a imprensa chilena entendeu que Bachelet havia descartado a necessidade de ajuda. Ontem, o chanceler chileno, Mariano Fernández, ressaltou que houve uma ;apreciação jornalística equivocada;. ;Não é que o Chile se negou a receber ajuda, dissemos que não solicitaríamos enquanto não tivéssemos uma lista adequada dos objetivos para combater a catástrofe em que estamos.; Segundo ele, com a experiência de sismos anteriores, ;é preciso ter mais precisão para que a ajuda tenha um sentido;.
Com a lista pronta, a ajuda não se fez esperar. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voou de Montevidéu, onde assistiu ontem à posse do presidente uruguaio José Mujica, e viajou diretamente para Santiago. No aeroporto da capital chilena, foi o primeiro presidente a prestar solidariedade a Bachelet pessoalmente e prometeu que o Brasil enviará ajuda.
;Nós vamos fazer tudo que estiver ao nosso alcance para ser solidário ao Chile, como estamos sendo solidários ao Haiti;, destacou Lula em seu programa de rádio semanal Café com Presidente. ;O Chile tem uma vantagem: é um país mais estruturado, que historicamente vem vivendo com terremotos. Tem uma Defesa Civil mais preparada. É um pais mais rico. Mas, naquilo que for necessário, nós vamos ser solidários. O Brasil será solidário com o povo chileno e com qualquer outro povo que sofra qualquer catástrofe;, completou. Pela manhã, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) definiu que a Marinha enviará um hospital de campanha e que equipes brasileiras de busca e salvamento serão enviadas num avião da Força Aérea Brasileira (FAB).
A União Europeia (UE), por sua vez, anunciou que enviará ao Chile um módulo de assistência médica e outro de ajuda técnica. No domingo, a Comissão Europeia (CE), braço executivo do bloco de países, já tinha confirmado em Bruxelas que colocaria à disposição do governo chileno cerca de US$ 4 milhões para ajudar nos trabalhos de resgate e apoio aos afetados pelo desastre.
Em conversa telefônica com o chanceler chileno, a alta representante da UE para as Relações Exteriores, Catherine Ashton, destacou o profissionalismo do governo do Chile e disse que a ajuda econômica já está disponível. Bachelet também pediu o apoio da UE com pessoal de resgate, assistência médica, construção de pontes, potabilização de água, telecomunicações e reconstrução de infraestrutura. A solicitação foi enviada ao Centro de Controle e Informação (MIC) da CE, que o transmitiu aos 27 países que a integram. A empresa Air World Wide, especializada em calcular os custos de desastres naturais, estimou em R$ 26 bilhões o prejuízo com o terremoto.
A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, se encontrará com Bachelet hoje, depois de se reunir com a presidenta argentina, Cristina Kirchner. Hillary pernoitou em Buenos Aires, depois de também comparecer à posse de Mujica, e levará equipes de comunicações a Santiago. ;Queremos mostrar o respaldo dos Estados Unidos ao povo chileno, conhecendo a realidade no terreno;, disse Philippe Reines, um alto funcionário do Departamento de Estado que viaja com a secretária. Amanhã, ela segue para Brasília, onde se reúne com o chanceler Celso Amorim.
Vandalismo
Bachelet anunciou à tarde o envio de 7 mil soldados às regiões de Maule e Concepción (1). Ao saber dos problemas de segurança nas duas localidades, Bachelet apelou à consciência cidadã dos chilenos. ;Sete mil efetivos (militares) são importantes e relevantes para as duas regiões;, afirmou a chefe de Estado. ;Não é aceitável a pilhagem e a delinquência;, destacou. A presidenta informou que 5 mil homens se somariam ao grupo de mais de mil soldados que já se encontra em Concepción. A cidade também foi cenário de dois graves incêndios. O primeiro aconteceu no supermercado Alvi, e o segundo, na loja La Polar, ambos provocados por jovens que tentavam saquear os estabelecimentos. ;Essa é uma situação realmente caótica e, aqui, há um grande exemplo do que acontece. Saquearam a loja por dois dias seguidos e já não temos como nos defender;, disse o gerente da La Polar, Marco Riquelme, aos jornais locais.
Já a capital, Santiago, teria voltado à ;normalidade;, segundo o jornal chileno La Tercera, apesar de vários bairros ainda estarem sem eletricidade e as réplicas continuarem fazendo o chão tremer. Durante a manhã, um desses reflexos alcançou magnitude 5,3.
O embaixador do Chile no Brasil, Álvaro Díaz Pérez, explicou ao Correio que o país tem necessidades específicas em termos de ajuda. ;Não precisamos de dinheiro, água ou comida. Precisamos de hospitais de campanha com equipamentos cirúrgicos, purificadores de água salgada, avaliadores de danos em prédios públicos e geradores de energia elétrica;, enumerou. ;Nós não estamos com problemas de geração de energia, mas de transmissão e distribuição, pois o terremoto destruiu parte do sistema de abastecimento;, disse Díaz.
1 - Queda de avião
Um pequeno avião modelo Piper que viajava com um grupo de seis pessoas a Concepción para prestar ajuda à população da cidade caiu na altura da localidade de Tomé, a 450km ao sul de Santiago. Toda a tripulação morreu: Marcelo Ruiz (piloto), Pablo Desbordes, Ignacio Fernández, Luis Ernesto Videla (ex-ministro de Interior), Juan Guillermo Moya e Rodolfo Becker. O grupo havia partido de Santiago às 12h28 de ontem e iria inspecionar o estado dos albergues destinados às vítimas do terremoto e dos tsunamis. Até o fechamento desta edição, a Direção Geral de Aviação Civil do país ainda não sabia informar as razões da queda.
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