Um dia depois do terremoto de 8,8 de magnitude na escala Richter, os chilenos choraram seus mortos, fizeram as contas para a reconstrução do país e aceleraram as buscas por feridos e soterrados, em uma corrida desesperada para salvar as vidas daqueles que estão sob os escombros. "Há um número crescente de pessoas desaparecidas", destacou a presidenta Michelle Bachelet, após se reunir com o Comitê de Emergências. Segundo ela, que voltou a sobrevoar as regiões atingidas, pelo menos 708 pessoas morreram devido ao terremoto e ao tsunami que atingiu o país logo depois do grande tremor de sábado. Cerca de 540 dos mortos pertenciam à região de Maule, a 300km ao sul de Santiago.
[SAIBAMAIS]O governo chileno calcula em 2 milhões o número de desabrigados. Em meio ao desespero, houve quem aproveitasse a ocasião para saquear supermercados, como ocorreu no município de Concepción, um dos mais afetados pela tragédia. Na cidade, a destruição de um só prédio deixou cerca de 100 pessoas soterradas. Até o fechamento desta edição, 26 haviam sido salvas. "As horas e o tempo são o fator crítico para salvar quem está lá dentro", disse a prefeita Jacqueline van Rysselberghe a um canal de tevê local, enquanto as equipes de resgate começavam a perfurar a estrutura para permitir a entrada de oxigênio em locais onde poderia haver pessoas presas. "Tivemos um dia dramático, os danos são enormes. Acreditamos que o número de mortos aumentará, devido às pessoas que estão sob os escombros", lamentou Jaime Tohá, intendente (governador) da região de Bío Bío.
Para "garantir a ordem pública e acelerar a entrega de ajuda", a presidenta Bachelet decretou estado de exceção de catástrofe(1) por 30 dias nas regiões de Maule, Bío Bío, as mais afetadas pela tragédia. Com isso, as Forças Armadas passam a ajudar na segurança desses locais. O toque de recolher começou às 21h de ontem e vai até as 6h. "Vamos garantir a distribuição gratuita de todos os produtos de primeira necessidade nas zonas afetadas", prometeu Bachelet, ao manifestar sua preocupação com os saques.
Prejuízos
Os cálculos dos prejuízos causados pela catástrofe natural começaram a ser divulgados ontem. Segundo a empresa americana EQECAT, especializada em estimativas de risco, os danos provocados pelo forte terremoto podem variar entre US$ 15 e 30 bilhões. A companhia destaca que o valor representa entre 10% e 15% do Produto Interno Bruto (PIB) do Chile. A conta mais alta será paga pela capital Santiago, devido ao alto índice de urbanização. A EQECAT, porém, observou que a adoção de normas de construção antissísmicas pelo Chile "reduziu o potencial destrutivo" do terremoto. O Serviço Geológico dos Estados Unidos também destacou que o custo humano do terremoto foi muito menor do que o sismo que devastou o Haiti em janeiro, considerando que o Chile "estava mais bem preparado".
1 - Constituição
Os estados de exceção estão descritos nos artigos 40 e 41 da Constituição chilena. Um deles é o estado de catástrofe, que faculta ao presidente da República restringir a circulação de pessoas, entre outras medidas. O mandatário, porém, é obrigado a informar o Congresso Nacional das ações adotadas e os legisladores podem tornar a medida sem efeito depois de 80 dias, se não existirem mais motivos para seu decreto. As zonas declaradas ficam sob a dependência imediata do Chefe da Defesa Nacional escolhido pelo presidente. Nesse caso, Bachelet designou os generais Guillermo Ramírez e Rosco Pesse para as regiões de Bío Bío e Maule, respectivamente.