Mar com até 6 mil metros de profundidade de um lado. Picos de terra com quase 7 mil metros do outro. E no meio, um país marcado por terremotos. Segundo sismólogos, o Chile está localizado no círculo do fogo, uma das regiões com a atividade sísmica mais intensa do mundo, origem de 80% dos tremores de terra e daqueles com maior poder de destruição. O de ontem, de 8,8 graus na escala Richter, dissipou energia equivalente a 27 mil bombas atômicas, segundo George Sand França, chefe do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB). "Grande parte dessa energia se dá pelo calor. As placas tectônicas estão em movimento contínuo de convergência. Chega um momento em que essa pressão acumulada não aguenta mais e explode", explica.
Segundo George, as placas tectônicas no Chile movimentam-se diferentemente das do Haiti, que em janeiro deste ano sofreu um terremoto de sete graus de magnitude. No litoral chileno, a Placa de Nazca move-se para se chocar com a Placa Sul-Americana. "No Haiti, elas fazem um mesmo movimento vertical, chamado de relativo. Como não há risco de choque, os efeitos dos terremoto são muito menores", compara. O nível de destruição do tremor na ex-colônia francesa foi o equivalente ao de 30 bombas atômicas.
Os sismólogos trabalham com a estimativa de que, a cada 10 anos, surjam na região chilena terremotos com mais de 8 graus de magnitude. O mais grave da história do Chile e do mundo ocorreu em 1960 em Valdivia, no sul do país. O terremoto com 9,5 graus matou 93 pessoas e gerou um tsunami de 10 metros de altura que chegou ao Havaí. A energia liberada pelo tremor mudou a geografia de mil quilômetros quadrados da costa chilena e terremotos de menor magnitude, chamados de réplicas, foram registrados durante um ano.
É esse efeito dominó, aliás, a principal preocupação dos especialistas no momento. "A energia vai sendo libera da de forma circular, criando novos tremores. É por isso que em alguns lugares do Brasil as pessoas sentiram a terra tremer, principalmente quem estava em prédios mais altos", explica Umberto José Travaglic Filho, técnico do Observatório Sismológico da UnB.
Pelo menos 50 réplicas ocorreram nas horas posteriores ao primeiro tremor no Chile, segundo o Escritório Nacional de Emergência do país. Em Salta, na Argentina, por volta das 12h45 de ontem, foi registrado um tremor de 6,3 de magnitude. "Isso demanda tempo para se normalizar. Há registros de tremores até hoje no Haiti", ressalta Joaquim Mendes Pereira, coordenador do Laboratório de Sismologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Ele também alerta que o efeito estende-se aos oceanos. "Já há registros de ondas maiores no Havaí e no Chile. Ninguém sabe se grandes tsunamis vão acontecer. Mas há essa possibilidade."