O preso político Orlando Zapata, que morreu após uma greve de fome de 85 dias, será sepultado nesta quinta-feira (25/2) em Banes, 850 km ao leste de Havana, sob a vigilância de agentes de segurança e em meio a prisões domicilares, denunciam os opositores.
[SAIBAMAIS]Zapata, 42 anos, detido em 2003 e que cumpria 32 anos de condenações por desacato às autoridades, desordem, entre outras acusações, faleceu na terça-feira em um hospital de Havana. O velório aconteceu na quarta-feira e o enterro foi programado pela mãe do dissidente para a manhã desta quinta-feira.
Depois da morte, 30 dissidentes foram detidos provisoriamente, muitos em suas casas, pelos serviços de segurança cubanos para evitar a presença dos opositores no funeral. No entanto, vários conseguiram viajar a Banes, na província de Holguín.
A mãe de Zapata, Reina Tamayo, que acusou o governo de deixar o filho morrer e pediu mais pressão internacional pela liberdade dos presos políticos, denunciou que Banes está "sitiada".
"Estão nos impedindo de dar o último abraço na mãe e chorar nosso morto. Por isto fizemos um velório simbólico aqui em minha casa, que está vigiada", disse por telefone a opositora María Antonia Hidalgo, que está em Holguín, capital provincial.
A polícia se posicionou nos arredores da casa de Tamayo, da funerária, do cemitério e da entrada da localidade, segundo Berta Soler, do grupo Damas de Branco - as esposas dos prisioneiros -, que viajou a Banes com outros dirigentes opositores, como Martha Beatriz Roque.
Em Madri, o presidente do governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, exigiu nesta quinta-feira a libertação de todos os presos políticos cubanos.
"Podemos imaginar o sofrimento dos presos políticos cubanos e devemos exigir do regime do país que devolva a liberdade aos presos e respeite os direitos humanos", declarou Rodríguez Zapatero em nome da presidência semestral espanhola da União Europeia (UE).
"Esta é uma exigência fundamental de toda a comunidade internacional", disse o chefe de Governo espanhol diante dos presidentes das comissões parlamentares das Relações Exteriores dos países membros da UE.
O ex-presidente polonês e Nobel da Paz Lech Walesa pediu a todos os vencedores do prêmio ações comuns para pressionar Havana e demandar a libertação daqueles que "foram condenados a anos de prisão por causa de suas convicções".
Enquanto Banes aguarda o funeral, em Havana alguns ex-presos políticos e opositores colocaram fitas negras nas portas das casas e velas diante da foto de Zapata.
Em um ato incomum, o presidente cubano Raúl Castro lamentou na quarta-feira a morte de Zapata, mas irritou mais uma vez a comunidade internacional ao negar a prática de torturas em Cuba e responsabilizou o governo dos Estados Unidos, o qual acusou de financiar a oposição com US$ 50 milhões anuais.
Zapata, um pedreiro negro que militava em um pequeno grupo ilegal de oposição, era considerado pela Anistia Internacional um dos 55 "prisioneiros de consciência" dos 200 presos políticos de Cuba.
Apesar dos protestos internacionais, o governo de Cuba alega que não existem presos políticos no país e que os detidos enfrentam acusações por atos contra a segurança de Estadoe da população.