Milhares de pessoas foram às ruas nesta terça-feira (23/2) nas principais cidades da Espanha em protesto contra o projeto de governo socialista de passar a idade de aposentadoria dos 65 para os 67 anos - uma decisão tomada para que seja garantido o pagamento de pensões a partir de 2030.
"Em defesa das pensões", "Não ao adiamento da aposentadoria" e "a solução não é cortar a proteção social" - eram os lemas que defendiam os manifestantes no centro de Madri liderados por Ignacio Fernández Toxo e Cándido Méndez, das organizações responsáveis pela convocação - os principais sindicatos, as Comissões Operárias (CCOO) e a União Geral de Trabalhadores (UGT).
O governo "não tem nenhum direito de espalhar intranquilidade" porque a Previdência Social espanhola está com superávit, declarou Méndez, enquanto Toxo considerou as propostas "injustas e desnecessárias".
"Cada vez que fazem uma reforma trabalhista, os trabalhadores dão três passos para trás", disse à AFP José Manuel Martínez, trabalhador de 58 anos, estimando que o governo socialista "está fazendo a política suja da direita".
Barcelona, Valencia e outras dez cidades foram cenário dos protestos enquanto, em outras, há manifestações marcadas para 6 de março. O executivo apresentou a proposta de adiamento das aposentadorias em janeiro e pretende debatê-la com os demais partidos políticos antes de sua aprovação.
Segundo o governo, a Previdência Social terá recursos para pagá-las até 2023 e, se utilizar o fundo de reserva, até 2030. Atualmente, a Previdência Social é superavitária, com reservas de 60 bilhões de euros. "Desejo para a Espanha um sistema previdenciário forte, sólido, não só para a década (...), mas para dentro de 20 ou 30 anos", declarou nesta terça-feira o presidente do governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero. Segundo uma pesquisa, 84% dos espanhóis são contrários a trabalhar mais dois anos.
A proposta do governo foi feita num contexto de recessão da economia espanhola desde o final de 2008 e de um forte aumento do desemprego (19% da população ativa), do déficit (11,4% do PIB em 2009) e da dívida pública prevista de 62,5% do PIB em 2010. Isso foi motivo de medo há algumas semanas entre analistas e investidores estrangeiros, enquanto o governo reagia anunciando um plano de corte de gastos de 50 bilhões de euros em três anos.
O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, declarou em Madri que "incentiva" os países europeus que não o fizeram ainda a "promover as refomas necessárias para a sustentabilidade de seus sistemas" sociais.