Francisco Madariaga, um dos bebês roubados pela ditadura argentina (1976-1983) e 100; neto localizado pelas Avós da Praça de Maio, contou nesta terça-feira (23/2) ter vivido 32 anos como um fantasma na Argentina.
"Foram 32 anos horríveis, de angústia, de viver muita violência e maus-tratos. Vivi 32 anos (sua idade) como um fantasma. Foi uma história obscura", afirmou Madariaga, que concedeu uma entrevista na sede da organização humanitária que ainda procura 400 crianças roubadas de suas famílias.
O sequestrador que o levou ainda recém-nascido foi o capitão reformado do exército Víctor Alejandro Gallo, condenado a 10 anos de prisão em 1997 por cumplicidade no massacre de uma família em um processo policial comum. O militar voltou a ser detido, acusado de apropriação de menor e mudança de identidade. "É linda a experiência de encontrar algo seu, e algo de que haviam me privado, que era a verdade. Sentia um vazio por dentro que é inexplicável... vocês não entenderiam", disse o jovem, enquanto abraçava seu pai biológico, Abel Madariaga, que trabalha com as Avós da Praça de Maio.
Estela de Carlotto, presidente da organização, indicou que "o sequestrador felizmente está detido, dada sua periculosidade e o risco de vida que o menino e sua família biológica corriam".
[SAIBAMAIS]A mãe de Francisco Madariaga era Silvia Quintela, médica e militante política, que estava grávida de quatro meses quando foi levada por agentes da ditadura em 17 de janeiro de 1977. Quintela deu à luz no centro clandestino de detenção El Campito, em Buenos Aires, antes de se tornar mais uma entre os 30.000 desaparecidos do regime militar, segundo cálculos de organismos humanitários. "Nos fundimos em um abraço de pai e filho como se tivéssemos nos separado por um ano", comentou Abel Madariaga, que também era ativista político durante a ditadura mas preferiu exilar-se para escapar da repressão.