Um superbloco genuinamente latino-americano e caribenho: é o que 32 líderes da região pretendem estabelecer a partir das discussões que mantêm desde ontem no balneário de Cancún, no México. Eles representam 586 milhões de pessoas de todo o continente americano na chamada Cúpula da Unidade - que soma a II Cúpula da América Latina e do Caribe (Calc) e a 21ª reunião do Grupo do Rio. "Temos a oportunidade inédita de construir um espaço comum que reafirme a unidade e a identidade de nossa região", anunciou o anfitrião do encontro, o presidente Felipe Calderón.
[SAIBAMAIS]Ainda não se sabe qual será o nome do novo grupo regional. Entre as possibilidades estariam Organização de Estados Latino-americanos (OEL), União da América Latina e Caribe e Comunidade da América Latina e Caribe. A chanceler mexicana, Patricia Espinosa, explicou que o objetivo é criar um organismo único que integre a toda América, com a exceção dos Estados Unidos e do Canadá, para tomar decisões de forma ágil e com enfoque na luta contra a pobreza, na governabilidade e no desenvolvimento. "A ideia é ter um espaço da região, para a região e a partir da região", disse Espinoza. "Para fora, (isso) fortalece a voz do subcontinente perante outras nações. Permite ter maior incidência e reforça a possibilidade de contar com os melhores intercâmbios políticos e comerciais", completou. Segundo o chanceler equatoriano, Ricardo Patiño, espera-se que o novo fórum comece a funcionar em julho de 2011, durante uma cúpula sobre integração que terá lugar na Venezuela, na qual as regras do bloco deverão ser aprovadas.
O presidente do Equador, Rafael Correa, e a presidenta do Chile, Michelle Bachelet, defenderam que a nova instituição trabalhe de forma paralela à Organização de Estados Americanos (OEA), que inclui EUA e Canadá. Já o presidente venezuelano, Hugo Chávez, o cubano, Raúl Castro, e o boliviano, Evo Morales, não acreditam na capacidade da OEA para resolver os problemas da região e colocam todas as fichas no novo bloco. "Muitos governos do continente coincidem conosco nessa velha proposta, para nos desprendermos definitivamente do colonialismo que os Estados Unidos impuseram. Este século é o século da libertação da América Latina, da libertação do Caribe", declarou Chávez. No domingo, Morales pediu que "se decida na América e na América Latina uma nova OEA sem os Estados Unidos".
Honduras
Além da criação da organização regional, a reconstrução do Haiti, a democracia em Honduras e a disputa pela soberania das Ilhas Malvinas entre Argentina e Reino Unido são os principais assuntos que dominam a reunião. O novo presidente de hondurenho, Porfirio Lobo, lamentou não ter sido convidado para o encontro, pois vários presidentes latino-americanos ainda não o reconheceram como governante legítimo. "O excluído é o povo hondurenho, depois do exercício democrático (as eleições de 29 de novembro)", disse Lobo a jornalistas de seu país. O subsecretário para América Latina e Caribe da chancelaria mexicana, Salvador Beltrán del Río, justificou a decisão ao explicar que o México, como anfitrião, %u201Cnão poderia fazer caso omisso%u201D a um país que está fora do sistema interamericano. "Enquanto Honduras não regressar à OEA, não podemos convidar", ressaltou. O Brasil é um dos países que ainda estudam o processo que resultou na posse de Lobo, em 27 de janeiro, e pôs fim ao governo de fato de Roberto Micheletti, que substituiu Manuel Zelaya depois do golpe de Estado de junho último.
Sobre o Haiti, os países devem aprovar hoje uma declaração conjunta de apoio e solidariedade ao governo do presidente René Préval. Após a reunião no México, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva segue viagem para Cuba, Haiti e El Salvador.