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Lobo toma posse em Honduras e assina decreto que anistia envolvidos em golpe

Líder deposto Manuel Zelaya abandona o país

Honduras iniciou um novo tempo às 11h20 de ontem (15h20 em Brasília), quando o conservador Porfirio ;Pepe; Lobo Sosa jurou perante a Constituição do país e recebeu a faixa presidencial das mãos de Juan Orlando Hernández, líder do Congresso Nacional. A cerimônia, realizada no Estádio Nacional Tiburcio Carías Andina, em Tegucigalpa, foi prestigiada por cerca de 21 mil pessoas e ocorreu sob forte esquema de segurança. ;Prometo ser fiel à República e cumprir e fazer cumprir as leis.; Com essa frase, Lobo tornou-se o 30; presidente constitucional do país e o oitavo mandatário desde 1982, ano que marcou o fim da ditadura.

Enquanto a solenidade de posse transcorria, milhares de integrantes e simpatizantes da Frente Nacional de Resistência contra o Golpe de Estado marchavam rumo ao Aeroporto Internacional Toncontín, aos gritos de ;Constituinte!”. Desde cedo, os oposicionistas se mobilizaram em homenagem ao presidente deposto, Manuel Zelaya, que ontem à tarde deixou o país.

O primeiro ato oficial do governo Lobo ocorreu às 12h, ainda dentro do estádio. O recém-empossado presidente firmou decreto que concede anistia aos militares acusados pelo Ministério Público de terem tomado parte do golpe de 28 de junho de 2009. ;A anistia é o início da reconciliação;, declarou o chefe de Estado em seu discurso de posse, pouco antes de assinar o documento. ;Ela se refere unicamente aos fatos políticos;, acrescentou. O governo norte-americano parabenizou Lobo e reiterou o compromisso de trabalhar em conjunto para superar a crise política. Por sua vez, o ex-presidente Roberto Micheletti pediu ao sucessor que trabalhe sempre ;com a Bíblia na mão direita e a Constituição na esquerda;.

Das tribunas do estádio, o vice-prefeito de Tegucigalpa, Juan Diego Zelaya, falou ao Correio por telefone e destacou as qualidades do novo mandatário. ;Pepe Lobo é um presidente que entende os problemas de nossa cidade, de nosso país e de nossa gente ; especialmente dos pobres;, afirmou. ;Estamos muito otimistas e entusiasmados pelo que virá, porque nos manteremos unidos, em prol das classes menos favorecidas.; Segundo ele, Lobo vai priorizar a unidade e a reconciliação nacional.

O deputado Toribio Aguilera, do Partido Innovación y Unidad Social Democrata ; que faz oposição tanto a Zelaya quanto a Lobo ;, compartilha da opinião de Juan Diego. Ele acredita que a posse de Pepe é ;uma aposta na esperança;, mas considera negativa a nomeação de alguns auxiliares para o gabinete. ;Em algumas áreas, as indicações são bastante fracas e muito improvisadas;, criticou. ;Mas estamos apostando. Nós, do Congresso, estamos na posição de apoiá-lo, sobretudo ante o deficit fiscal de 4%. O senhor Zelaya gastou de uma forma incrível, desordenada, sem nenhum plano e comprometeu os recursos com aumentos salariais, em um esquema populista;, acrescentou. Aguilera ressaltou a importância do apoio da comunidade internacional no processo democrático. De acordo com ele, a população de Honduras espera que o Brasil, por meio do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), auxilie no progresso do país, ao financiar obras de hidrelétricas.

O parlamentar considera a reconciliação nacional uma meta difícil de ser alcançada, enquanto Zelaya ;continuar jogando suas cartas; em Honduras. ;Os simpatizantes seguirão com seu plano de desestabilização;, advertiu. No entanto, ele garante que grande parte da população se mantém comprometida com a democracia e a liberdade. ;Os desafios são complexos, com a nossa situação fiscal bastante precária, mas espero que o presidente Porfirio possa administrar esse problema da melhor maneira possível. O Congresso sempre o apoiará enquanto respeitar a Constituição e as leis;, comentou Aguilera.

Exílio
A história do presidente deposto Manuel Zelaya também ganhou novo capítulo por volta das 13h (17h em Brasília), com a chegada de Lobo e do presidente da República Dominicana, Leonel Fernández, à Embaixada do Brasil, em Tegucigalpa. Do lado de fora do prédio, situado no bairro Colonia Palmira, uma multidão de curiosos aguardava a saída dos três ; acompanhados por seus assessores. Fernández e Lobo fizeram questão de acompanhar o líder deposto até o aeroporto. Antes de partirem, Rassel Tomé, braço-direito de Zelaya e líder da oposição, conversou por telefone com a reportagem e mandou um recado para o Palácio do Planalto. ;Como hondurenho, quero agradecer ao presidente Lula e ao povo brasileiro pelo apoio e respaldo outorgados ao presidente Manuel Zelaya Rosales. Ao honrar o presidente, vocês nos honram como povo;, afirmou, emocionado.

Tomé comparou os 129 dias de abrigo na embaixada à luta dos latino-americanos por condições de vida mais adequadas. ;Conseguimos obter o respaldo de uma nação irmã e pronta a dar seu apoio aos princípios democráticos: o grande povo e a grande república do Brasil.; A caminho do aeroporto, Juan Barahona, líder da Frente Nacional de Resistência contra o Golpe de Estado, comandava o protesto pró-Zelaya. ;O governo golpista está entregando a presidência a outro golpista;, disse à reportagem. Zelaya; a mulher, Xiomara; a filha e Tomé deixaram a embaixada às 15h (19h em Brasília) e, meia hora depois, embarcaram em um jatinho rumo à República Dominicana.