O caixão do major Francisco Adolfo Vianna Martins Filho foi o primeiro a deixar a Base Aérea de Braília, onde os militares mortos no Haiti foram homenageados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O corpo foi velado por familiares, amigos e ex-companheiros de corporação no cemitério Campo da Esperança, no fim da Asa Sul, a partir das 17h. Em cima de um Urutu, tanque do Exército brasileiro com o qual Martins Filho se deslocava nas caóticas ruas da capital haitiana, Porto Princípe, o caixão saiu da região do aeroporto e atravessou o Setor Policial Sul até o cemitério. No trajeto, chegou a ser saudado por alguns motoristas.
Ele foi o único militar vítima do terremoto a ser sepultado no Distrito Federal. Aproximadamente 30 pessoas participaram do velório. O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) compareceu e afirmou que votará favoravelmente ao decreto legislativo destinado a autorizar a ida de mais tropas brasileiras da missão de paz.
Abraçada a uma amiga e à filha Marina, 9 anos, Emília Ribeiro Rodrigues Martins, viuva do major, aceitou conversar com a imprensa antes do sepultamento. ;Não posso falar que ele (Martins Filho) era perfeito, mas era uma pessoa evoluída. Por isso, se foi tão cedo;, emocionou-se. ;Se eu pudesse, não deixaria meu marido tão livre, como fiz. Ele tinha paixão por vestir a farda do Exército e representar o país.; O enterro foi acompanhado pelo Batalhão da Guarda Presidencial, ao som de salvas de tiros.
Mineiro de Belo Horizonte, Francisco Adolfo Vianna Martins Filho, 41 anos, costumava dizer que estava há 30 no serviço militar ; incluía no cálculo o período em que estudou no Colégio Militar da capital mineira. Havia quatro meses atuava na missão de paz brasileira no Haiti, como assessor do chefe militar da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), o general brasileiro Floriano Peixoto. Seu corpo foi encontrado no início da noite do último domingo, nos escombros do prédio-sede da ONU.
Tristeza e gratidão
O velório do número 2 da missão de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti, o brasileiro Luiz Carlos da Costa, foi realizado ontem, sob forte emoção, no prédio do Ministério das Relações Exteriores no Rio de Janeiro, o Palácio do Itamaraty. ;Só podemos desejar a ele a paz que ele lutou tanto para trazer ao mundo. Muito obrigada, pai, você estará para sempre em nossos corações e nos corações de todos;, disse Anna Maria, a filha mais velha, procurando não chorar enquanto lia o texto escrito pouco antes da cerimônia.
A viúva de Costa, Cristina, lembrou o primeiro cargo ocupado pelo marido na ONU, de mensageiro. O brasileiro trabalhou durante 40 anos na organização, com atuação em áreas de conflito como Kosovo, Libéria e Camboja. ;Ele cumpriu sua missão de paz neste mundo, agora ele vai cumprir lá em cima. (;) Peço aos que se amam, principalmente aos casais, que nunca se esqueçam de dar as mãos, sempre. Sempre que tiverem vontade, digam que se amam, porque nunca se sabe a vontade de Deus;, afirmou, levando às lágrimas os presentes.
A pedido da família, o corpo foi levado ao Rio de Janeiro ; terra natal de Costa e cidade onde vivem sua mãe, Beatriz, e a irmã, Sônia Maria ; antes do sepultamento, marcado para amanhã, em Nova York. Costa vivia com a mulher e as filhas na cidade norte-americana. A cerimônia teve honras militares e contou com a presença do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Vários colegas de Costa na ONU que trabalham no Brasil também foram prestar as últimas homenagens ao amigo.
Subsecretária de Apoio Logístico das Nações Unidas, a argentina Susana Malcorra lembrou a amizade de Costa com o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, morto em 2003, durante atentado terrorista no Iraque. ;Sérgio dará boas-vindas a seu amigo Luiz;, disse.