A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, anunciou nesta terça-feira a intenção de suspender uma viagem que realizaria na próxima semana à China porque, segundo ela, seu vice-presidente, Julio Cobos, "não cumpre seu papel".
[SAIBAMAIS]"Decidi adiar minha viagem à China", declarou Cristina Kirchner à imprensa. "O vice-presidente não está cumprindo o papel que lhe é atribuído pela Constituição", justificou.
Cobos "não apenas se tornou o líder da oposição, como tenta se opor a medidas da competência da Presidência", acrescentou.
A Argentina vive uma crise institucional desde a decisão de Cristina Kirchner de afastar por decreto o governador do Banco Central, Martin Redrado, apesar de seu estatuto de independente. Redrado foi reinstaurado no cargo pela justiça.
O vice-presidente Julio Cobos, adversário da presidente desde a longa crise dos agricultores em 2008, encurtou suas férias e voltou ao seu escritório do Senado em plena crise. Ele se opôs aos decretos presidenciais e exigiu que qualquer solução para a crise seja elaborada no Congresso.
Cristina Kirchner ainda anunciou que ordenou ao chefe do governo, Anibal Fernandez, a convocação da comissão parlamentar bicameral que deve se pronunciar sobre o afastamento de Redrado.
"Trazemos assim uma solução coerente com a posição da oposição", declarou.
O artigo 9 da carta constitutiva do Banco Central estipula que para poder demitir seu presidente, o Poder Executivo tem que solicitar a opinição desta comissão bicameral do Congresso.
O mandato de Redrado, nomeado em 2004, expira no dia 23 de setembro deste ano, e a oposição considera que a presidente não respeitou a carta do banco ao tentar afastá-lo sem consultar antes a comissão bicameral.
Cristina Kirchner criticava a lentidão de Redrado em disponibilizar para o Executivo 6,5 bilhões de dólares das reservas para pagar a dívida em 2010, uma decisão tomada por decreto presidencial.
Temendo que as reservas sejam apreendidas no exterior a pedido de portadores de títulos argentinos, Redrado queria examinar todas as consequências jurídicas desta decisão para o Banco Central.
Um juiz americano apreendeu brevemente em Nova York 1,8 milhão de dólares em reservas do BC argentino.