PARIS - Após o violento terremoto que devastou o Haiti, a situação sanitária se anuncia caótica, em um país marcado por uma miséria endêmica e que teve boa parte de sua infraestrutura destruída. O próximo desafio será superar os riscos sanitários, segundo os especialistas nesse tipo de catástrofe.
P: Quais são as urgências sanitárias?
R: Retirar os sobreviventes dos escombros e atender os feridos é a prioridade para os especialistas consultados nesta quinta-feira (14) pela AFP. Em seguida, será necessário abrigar os sobreviventes. "Quanto mais rápido tivermos abrigos, água e alimentos, menos doenças teremos", ressalta Brigitte Vasset, da organização Médicos sem Fronteiras.[SAIBAMAIS]
P: Quais são os ferimentos mais frequentes?
R: "Crush syndrome" (síndrome do esmagamento), politraumatismos e fraturas. A síndrome de esmagamento é específica de tremores de terra. Trata-se de uma compressão, por escombros, de "grandes massas musculares", principalmente os joelhos, o que faz com que no momento em que o ferido é retirado dos escombros, todas as toxinas acumuladas sejam liberadas no organismo e afetem os rins. Esse problema pode gerar um quadro de insuficiência renal aguda.
P: Os corpos são uma ameaça?
R: "Após uma catástrofe natural, os corpos não transmitem doenças", assegura a Dra Vasset. "Não é a catástrofe que vai gerar epidemias, são os concentrações de pessoas, particularmente em um país onde o sistema de saúde é fraco".
P: A questão da água é essencial?
R: Os especialistas são unânimes, a água potável é uma prioridade. A Organização Mundial de Saúde (OMS) vai enviar especialistas. "Antes do terremoto, apenas um haitiano em dois tinha acesso à água potável, e 19% da população tinham acesso ao saneamento básico adequado", lembra Paul Garwood, da OMS.
"É preciso encontrar soluções urgentes (cisternas, distribuição com caminhões-pipa) antes de reconstruir", considera a Dra Vasset.
P: Quais são as doenças mais perigosas?
R: Em primeiro lugar, as doenças transmitidas pela água suja, sobretudo a diarréia. "Diarréia, disenteria, malária, cólera, tuberculose e outras infecções respiratórias severas já estavam presentes antes no país", indica Paul Garwood. "Se as crianças forem vacinadas contra a rubéola, não há um risco de epidemia", afirma a Dra Vasset.