A polícia do Suriname recomeçou ontem a investigar o ataque à comunidade brasileira na cidade de Albina, conhecida pelo garimpo do ouro. O governo de Paramaribo também prometeu enviar mais policiais à região no início do mês. O incidente ocorreu na véspera de Natal, quando um grupo de ;morenos; (como são chamados no país os descendentes de quilombolas) agrediu uma centena de brasileiros com facões e pauladas, além de violentar brasileiras. O nativos não vêem com bons olhos a ideia de dividir a exploração do ouro com os estrangeiros ; além dos brasileiros, chineses e javaneses também sofreram ataques e agressões.
Depois de prenderem 41 suspeitos, os policiais devem agora sair em busca dos corpos de garimpeiros supostamente mortos no confronto. Segundo disse ao Correio o padre José Vergílio, radicado em Albina, ;existe a dificuldade de provar (a morte dos brasileiros), pois, durante a fuga, todo mundo correu para as canoas e foi para o rio. E, lá, muitos foram abatidos;. Mergulhadores foram enviados ao Rio Maroni para pesquisar a área e tentar averiguar os relatos.
Um ex-garimpeiro identificado apenas pelas iniciais N.S.L., maranhense de 24 anos, acredita que alguns brasileiros foram assassinados no conflito, que deixou pelo menos 81 feridos. ;Tinha muita briga, muito medo; A gente sempre andava em grupo quando saía do acampamento e ia procurar alguma coisa na cidade, era muito assalto. Se um ;caísse; (fosse capturado) com ouro, era morte na certa;, disse ele ao portal de notícias Cidade Verde. ;Não aguentei o inferno;, completou o jovem, que voltou ao Brasil dois meses antes do ataque.
Por outro lado, a embaixada brasileira em Paramaribo tem recebido de vários quilombolas mensagens de amizade e respeito aos brasileiros. Para o antropólogo Salomão Emmanuel, o que aconteceu em Albina não deve ser analisado no contexto de um conflito étnico. ;Tem tudo a ver com o problema da imigração que ocorre em todo o mundo;, disse o especialista ao jornal surinamês Dagblad Suriname. ;A complexidade da questão da imigração não permite que isso se resolva unicamente pela legislação e pela política externa atual do Suriname. As leis por si não podem garantir a paz e a ordem. Os imigrantes devem ser acompanhados na nova realidade sociocultural do país onde estão, para se integrarem;, opina Emmanuel.