O comandante das Forças Militares da Colômbia, general Freddy Padilla, deslocou-se até o departamento (estado) de Meta, a sudeste de Bogotá, para confirmar a identificação de três dos 25 guerrilheiros mortos na madrugada do ano-novo, no bombardeio a dois acampamentos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) no município de Vista Hermosa, a cerca de 300km da capital. O general também fez questão de anunciar pessoalmente que se tratava de três comandantes da Frente 43 das Farc e, mais importante, responsáveis pela guarda pessoal do segundo homem na hierarquia do grupo, Jorge Briceño, conhecido também como Mono Jojoy.
Eliseo Caicedo, chamado de Mauricio Pitufo, e Miller Ospina, codinome El Abuelo ("o avô"), integravam a guerrilha havia 18 anos. O terceiro troféu de guerra festejado por Padilla e pelo comandante da Força Tarefa Ômega, general Javier Flórez, é Alberto Ruiz, o Negro Alberto. Segundo informações contraditórias da imprensa colombiana, Pitufo seria o chefe da Frente 23 ou o vice-comandante, subordinado ao Negro Alberto. Mas os militares não escondiam o entusiasmo por sentir, pela terceira vez nos últimos quatro anos, que a tropa pisa nos calcanhares do Mono Jojoy, perseguido com especial empenho por sua importância na cadeia de comando da guerrilha.
No fim de semana, prosseguiam os combates com sobreviventes do bombardeio nos limites entre os departamentos de Meta e Guaviare, onde comandos das forças especiais prosseguem uma operação iniciada há quatro meses. Com a descoberta de outro acampamento, a perseguição de fugitivos e a colaboração de informantes, a Força Tarefa Ômega localizou por fim os acampamentos da Frente 43, com capacidade para abrigar 200 guerrilheiros. A decisão foi atacar na madrugada do dia 1º para surpreender os rebeldes na comemoração do ano-novo.
"Sabíamos que, apesar das medidas de segurança que eles tomam nessas datas, a indisciplina sempre leva alguns a beber um pouco a mais e baixar a guarda", disse ao jornal El Tiempo um militar que participou da operação. Segundo o relato, o general Padilla deu pessoalmente as instruções finais para o ataque combinado - primeiro, as bombas lançadas por aviões Supertucano, de fabricação brasileira, e depois a investida da tropa. "Partimos com a convicção de que tinha de ser um golpe certeiro, porque o país estava cobrando."
Revide
O bombardeio serviu como resposta a uma escalada de ações das Farc no sudeste e sudoeste do país, culminando com o sequestro e assassinato do governador de Caquetá, também vizinho a Meta, às vésperas do Natal. Ajudou também a enfrentar questionamentos da oposição aos resultados do Plano Patriota, ofensiva sustentada há cinco anos contra os redutos históricos das Farc - na divisa entre Caquetá, Meta e Guaviare. Desde 2007, em duas ocasiões os militares acreditam ter chegado muito perto do Mono Jojoy, que segundo relatos estaria debilitado pela dificuldade em obter insulina para controlar o diabetes.
Personagem da notícia
'Homem mau' da guerrilha
Entre 1999 e 2002, durante o fracassado processo de paz entre as Farc e o governo de Andrés Pastrana, a Colômbia urbana e %u201Coficial%u201D acostumou-se a ver em Jorge Briceño Suárez a encarnação de todos os fantasmas associados à ideia de ver a guerrilha marchando sobre Bogotá. O Mono Jojoy, como também é conhecido, era desde então o chefe de operações militares e comandante do Bloco Oriental, àquela altura (e ainda hoje) uma das vigas-mestras das Farc, ao lado do Bloco Sul. Ao contrário de outros líderes mais politizados, Briceño jamais recusou o papel de "homem mau".
Foi ele quem anunciou, em abril de 2000, a "lei 002" da guerrilha, que fixa um imposto de 10% sobre patrimônios acima de US$ 1 milhão, sob pena de "retenção" (sequestro). Um ano mais tarde, quando as Farc libertaram dezenas de policiais e militares que mantinham prisioneiros - em troca de um grupo de guerrilheiros -, o Mono Jojoy "despediu-se" dos cativos com uma ameaça: "Nos vemos nas cidades. Na selva vão ficar só os bichos", avisou, sinalizando o alvo de uma ofensiva que ficou a meio caminho, mas na prática tornou a população urbana refém, impossibilitada de transitar pelas estradas.
Na época, quando o efetivo guerrilheiro rondava a marca dos 20 mil combatentes, ele fazia contas para o avanço final sobre a capital e os grandes centros. "Se me derem 30 mil, espalho m%u2026 pelo país", teria dito em uma conversa por rádio com o alto comando, gravada pelos militares. Com a morte do fundador e líder histórico das Farc, Manuel "Tirofijo" Marulanda, em 2009, Briceño tornou-se o segundo homem na cadeia de comando, abaixo do ideólogo Alfonso Cano.
Mas, embora não tenha a formação teórica e ideológica de Cano, formado em antropologia e veterano da militância urbana na Juventude Comunista, o Mono Jojoy parece ter sido quem melhor compreendeu, no alto comando rebelde, o significado de longo prazo do Plano Colômbia, pelo qual os Estados Unidos treinaram e equiparam o Exército colombiano. Rompido o diálogo, em 2002, ele teria comentado com seus camaradas que a hora de decidir a guerra era aquela: "Ou vencemos, ou na próxima negociação de paz vamos estar refugiados em algum povoado da Alemanha". (SQ)
Revista censura o continuísmo
A despeito dos êxitos no restabelecimento da segurança pública, especialmente no combate à guerrilha, a prestigiada revista britânica The Economist desaconselha o presidente Álvaro Uribe a tentar o terceiro mandato consecutivo, nas eleições de maio. No editorial de sua última edição de 2009, intitulado Hora de entrar para a história, a publicação elogia a "liderança incansável e decidida" de Uribe, à qual atribui a conquista de "um país melhor e mais seguro". O texto conclui que a Colômbia "precisa de instituições fortes, não de um eterno homem forte".
Não escapou ao editorialista uma comparação entre o presidente colombiano e seu vizinho (e rival) venezuelano, Hugo Chávez, que se empenhou até aprovar uma emenda constitucional pela qual poderá se candidatar à reeleição seguidamente, sem limites para o número de mandatos. "Uribe parece decidido a emular o caudilho de Caracas", critica o editorial. A Economist sugere ao presidente colombiano que se espelhe no colega brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, ou na chilena, Michelle Bachelet, que se abstiveram de iniciativas para permanecer no poder. "Seguindo esse exemplo, Uribe entraria para a história como um democrata que salvou seu país."
O texto enumera as conquistas do governante desde que chegou ao poder, em 2002, sucedendo a Andrés Pastrana, protagonista de um frustrado processo de negociações de paz com a guerrilha. Àquela altura, o poderio das Farc chegou a representar uma ameaça potencial à estabilidade das instituições. Uribe, eleito sob o lema de guerra total, fortaleceu o Exército e com isso golpeou duramente os rebeldes. Além disso, negociou a desmobilização dos esquadrões paramilitares que combatiam as Farc à margem do Estado. "Todos esses êxitos no terreno da segurança ajudaram a reativar o crescimento econômico e a confiança da nação", reconhece o texto.
Esta não foi a primeira vez que a conceituada revista, conhecida pelas posições liberais, faz reservas aos planos de Uribe para possibilitar a segunda reeleição. Em maio passado, a Economist alertou-o sobre o perigo de %u201Cdeslizar para uma autocracia", e afirmou que a aprovação da emenda representaria "um mal para a democracia" na Colômbia.