O nigeriano de 23 anos acusado de ter tentado explodir um avião durante o voo entre Amsterdã e Detroit foi levado no sábado à noite à presença de um juiz, que leu oficialmente a ata de acusação contra ele.
Umar Faruk Adbulmutallab, filho de um banqueiro e descrito por um ex-professor como um estudante brilhante de ideias radicais, foi acusado pela tentativa de destruir um avião da Northwest Airlines que se aproximava do aeroporto de Detroit no dia de Natal e de ter introduzido um explosivo a bordo da aeronave, informou o Departamento de Justiça americano.
O juiz Paul Borman visitou o hospital de Detroit e leu a acusação durante uma audiência de 20 minutos.
O suspeito foi internado em consequência das queimaduras sofridas na tentativa de ativar pentrita, um poderoso explosivo, para tentar derrubar o Airbus A330 que transportava 278 passageiros e 11 membros da tripulação.
Segundo jornalistas autorizados a assistir a audiência, o jovem nigeriano estava algemado em uma cadeira de rodas e tinha os pulsos e mãos enfaixadas. Declarou ao juiz não ter como pagar por um advogado e um oficial do Estado foi designado para sua defesa.
Segundo as testemunhas e a ata de acusação, Abdulmutallab confessou ter injetado com ajuda de uma seringa um líquido químico na pólvora que havia escondido na perna, para tentar explodir o avião.
Este procedimento permitiu que superasse sem dificuldades os controles do aeroporto de Schipol, em Amsterdã, considerados muito rigorosos, onde fez uma escala procedente de Lagos e com um visto de entrada nos Estados Unidos, segundo a polícia holandesa.
Ele também afirmou ter sido treinado por membros da Al-Qaeda no Iêmen, segundo fontes dos serviços de segurança.
De acordo com os testemunhos dos passageiros ouvidos pelo FBI, Abdulmutallab seguiu para um dos banheiros do avião 40 minutos antes do pouso e permaneceu no local por 20 minutos.
"Ao voltar para o banco, se queixou de dores no estômago e se cobriu com um cobertor", afirma um comunicado do Departamento de Justiça.
Os passageiros ouviram barulhos parecidos com os da explosão de bombas e viram fogo em um dos lados do avião e na calça do suspeito, completa a nota.
Foi então que um passageiro holandês, Jasper Schuringa, se tornou o herói do voo 253 e se jogou sobre o nigeriano.
"Saltei sobre ele e comecei a procurar o explosivo. Depois peguei um tipo de objeto que estava fundindo e fazendo fumaça e tentei apagar", contou ao canal CNN.
Schuringa se queimou ao tentar apagar o fogo de maneira desesperada, inclusive usando as mãos, e foi ajudado por outros passageiros, que usaram água, e pela tripulação.
O jovem nigeriano, com queimaduras graves em uma perna, foi contido e amarrado.
Uma análise preliminar do FBI concluiu que ele utilizou PETN, também conhecido como pentaeritritol, um potente explosivo. Os agentes do FBI também recuperaram o que acreditam ser os restos de uma seringa.
Uma fonte do governo americano confirmou à AFP que o pai do jovem, Umaru Mutallab, entrou em contato no mês passado com a embaixada do país na Nigéria para manifestar preocupação com a radicalização do filho, que recebera um visto para entrar nos Estados Unidos em junho de 2008.
Conhecido banqueiro nigeriano, Umaru Mutallab, 70 anos, afirmou à AFP estar "chocado" com a ação do filho.
Segundo Michael Rimmer, um dos ex-professores do jovem na British School de Lomé (Togo), em 2001 ele apoiava os talibãs no poder em Cabul pouco antes da invasão americana ao Afeganistão.
"Apesar disso, Abdulmutallab era o sonho de todo professor, muito assíduo, entusiasmado, muito brilhante e muito educado", declarou à BBC.
A University College de Londres (UCL) confirmou no sábado que um estudante chamado Umar Faruk Abdulmutallab cursou Engenharia Mecânica na instituição de 2005 a 2008.
Em maio tentou retornar ao Reino Unido, mas o serviço de imigração britânicos negou o visto de estudante porque o estabelecimento em que pretendia estudar foi considerado fictício, segundo uma fonte do governo de Londres.
Após a tentativa de atentado, os passageiros de todo o mundo passaram a enfrentar medidas de segurança reforçadas nos grandes aeroportos de Europa, América do Norte e Ásia a pedido dos Estados Unidos.