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De Guantánamo para os EUA

Obama compra prisão, no estado de Illinois, para abrigar suspeitos detidos em Cuba. Analistas veem desespero do presidente

Um pequeno centro de detenção no estado de Illinois será o primeiro, em território norte-americano, a receber parte dos cerca de 210 homens confinados na controversa prisão de Guantánamo, em Cuba. Segundo uma carta assinada pelos secretários de Estado, Hillary Clinton, e de Defesa, Robert Gates, e endereçada ao governador de Illinois, Patrick Quinn, a Casa Branca decidiu comprar o Thomson Correctional Center para abrigar ;prisioneiros federais e um número limitado de detentos da Baía de Guantánamo;. O estabelecimento tem capacidade para 1,6 mil presos.

;Isso não só ajudará a resolver o urgente problema de superlotação nas nossas prisões federais como também ajudará a cumprir a meta de fechar o centro de detenção de Guantánamo de forma desembaraçada, segura e legal;, afirmam os secretários na carta. A transferência será a primeira grande ação do governo no sentido de retirar os presos de Guantánamo ; compromisso assumido pelo presidente Barack Obama ainda na primeira semana no poder. Contudo, Obama não conseguirá cumprir o prazo que ele mesmo estipulou de um ano para o fechamento da prisão na ilha cubana.

Segundo o maior jornal do estado de Illinois, o Chicago Tribune, a prisão receberá entre 35 e 90 prisioneiros vindos da baía cubana. Atualmente, o Thomson Correctional Center, construído em 2001, abriga apenas 200 detentos ; oito vezes menos que a sua capacidade total ;, por conta de ;restrições orçamentárias;. O centro deverá ser vendido ao Departamento Federal de Prisões, e a parte que abrigará os suspeitos de terrorismo será cedida ao Departamento de Defesa.

Neste ano, o Congresso dos Estados Unidos aprovou uma lei que proíbe a transferência dos presos de Guantánamo para o território norte-americano, a não ser que eles sejam levados à Justiça comum do país. Os governistas, entretanto, querem derrubar a restrição, e enfrentam a oposição dos republicanos. Para o líder do partido no Senado, Mitch McConnell, a prisão de Illinois será uma espécie de ;Guantánamo do Norte; e não ;tornará os americanos mais seguros do que mantendo esses terroristas fora das nossas costas, numa instalação segura em Cuba;.

Para especialistas, a decisão do governo de transferir os detentos para uma prisão comum mostra o ;desespero; do presidente para terminar o ano com ações mais ;concretas; e não somente com promessas. ;Obama lançou sua campanha para presidente e alcançou um sucesso inicial com o apoio da esquerda contrária à guerra. A decisão sobre o Afeganistão a irritou. Se ele não acalmar a esquerda sobre Guantánamo, colocará em risco seu partido nas eleições de 2010;, afirmou ao Correio John Baker, professor da Louisiana State University. Segundo ele, transferir os presos para o pequeno centro de detenção foi uma ;péssima ideia;. ;Essas pessoas deveriam estar em uma prisão militar. Esta ação os coloca como criminosos, e não como participantes de uma guerra;, afirma.

Progresso
Apesar de concordar que Obama está ;desesperado; para conseguir algum avanço no tema, o especialista Ivan Eland, do Instituto Independente, de Washington, acredita que a decisão representa um progresso. ;Isso garantirá que mais deles tenham julgamentos justos no sistema de justiça dos EUA. Não elimina a perda de direitos para alguns presos, mas já é um passo positivo;, opina. Eland, contudo, alerta que é preciso monitorar a trajetória desses presos daqui para a frente, ;para se certificar de que todos os detidos tenham um julgamento justo, como estipula a Constituição dos EUA;.

Eficaz ou não, a decisão agradou a muitos moradores da cidade de Thomson, a 240 km de Chicago, e ao governador de Illinois. Segundo Quinn, o projeto pode proporcionar até 2 mil empregos no estado, além de US$ 1 bilhão em investimentos federais. Para o comerciante Todd Baker, que possui loja em Thomson, a compra da prisão não só vai garantir mais empregos, como segurança. ;Esta notícia me faz querer manter as minhas portas abertas. Vai ter muitos guardas vindo por conta da ;isca;;, disse à rede CNN.

A nova prisão

Números do Thomson Correctional Center, em Illinois:

  • 15 prédios no total, totalizando 58 mil metros quadrados de área construída, em um terreno de 590 mil metros quadrados

  • Instalações de segurança máxima: 1.600 celas, oito prédios de dormitórios

  • Instalações de segurança mínima: 200 camas


Bombas matam 47 no Afeganistão e Paquistão
Rodrigo Craveiro
A cada atentado, o medo dá lugar à indiferença, ainda que perturbadora. Foi o que ocorreu ontem com o intérprete afegão Sayed Abdul Wakil, 23 anos. Às 9h30 (hora local), o impacto da bomba estilhaçou os vidros de seu escritório, no distrito de Wazir Akbar Khan, em Cabul. ;A explosão foi pesada, ocorreu a apenas 500m de mim;, contou ao Correio, pela internet. Os extremistas tinham alvos predeterminados: o Hotel Heetal, que abriga vários ocidentais, e a casa do ex-vice-presidente Ahmed Zia Massud, irmão do herói afegão e guerrilheiro Ahmed Shah Massud. Pelo menos nove pessoas, incluindo quatro mulheres, morreram no ataque, que também deixou 40 feridos e coincidiu com uma conferência contra a corrupção. Em Gardez, capital da província de Paktia (96km ao sul de Cabul), outra explosão diante da sede da organização não governamental USAid matou cinco seguranças ; um nepalês e quatro afegãos.

Wakil não se ressente da onda de violência que atinge seu país. Questionado sobre o motivo de os extremistas desejarem a morte de Massud, ele adotou um tom ríspido. ;Não são extremistas. São servos de Deus;, argumentou, afirmando ser favorável aos atentados. ;Os ocidentais e seus apoiadores têm que ser mortos. O ex-vice-presidente é um grande cachorro dos demônios do Ocidente. Quem trouxe os americanos para o Afeganistão? Foram pessoas como ele que trouxeram a América e ainda apoiam os americanos;, disparou.

No vizinho Paquistão, outra região sensível ao terrorismo, uma pequena cidade de 15 mil habitantes praticamente parou às 14h45 (hora local) de ontem. O estudante Muhammad Shahbaz, 23, escutou um som distante. ;Parecia um prédio desabando;, comparou. Minutos depois, dirigiu-se até um mercado, localizado na avenida principal de Dera Ghazi Khan (na província de Punjab), e vislumbrou nuvens de fumaça e pânico. ;Todas as pessoas corriam para ajudar os feridos. As lojas fecharam suas portas e alguns cidadãos choravam por parentes que não foram vistos no local;, descreveu, em entrevista pela internet.

Os 900kg de explosivos acondicionados em um carro deixaram ao menos 33 mortos e 60 feridos. De acordo com Hasan Iqbal, chefe da administração municipal, o ataque foi perpetrado por um extremista suicida. A detonação abriu uma cratera de 4,5m de profundidade por 9m de largura. Até o fechamento desta edição, as autoridades acreditavam que cerca de 20 civis estavam desaparecidos. Segundo a agência de notícias Associated Press, a casa do deputado Zulfiqar Khosa ; membro do partido Liga Muçulmana do Paquistão-N (Liga-N) e opositor a Islamabad ; foi atingida. Dois primos do parlamentar ficaram feridos.