A "Concertación", a bem sucedida coalizão de quatro partidos de centro-esquerda que derrotou nas urnas a ditadura de Augusto Pinochet e governou o Chile nos últimos 20 anos, começa a mostrar sinais de desgaste que põe em risco sua continuidade e pode abrir um espaço para a direita, advertem analistas.
[SAIBAMAIS]De acordo com as últimas projeções para as eleições de domingo, no Chile, o empresário de direita Sebastián Piñera seria o vencedor com 44,1% dos votos, e uma vantagem de 13,1% sobre o governista Eduardo Frei, com quem deverá se enfrentar num segundo turno.
O bloco que governa o Chile nasceu em 1986, como oposição a Pinochet, que ameaçava eternizar-se no poder, e reuniu no início 17 partidos políticos, entre eles o Humanista, o Socialista e a Democracia Cristã.
Com uma campanha baseada na alegria - para se opor ao medo que a ditadura despertava -, a aliança conseguiu impor a opção 'Não' (com 56% a favor) contra a continuidade de Pinochet no plebiscito de 1988, obrigando-o a convocar eleições gerais um ano depois. O ditador deixou o poder definitivamente no dia 11 de março de 1990.
Neste dia, com a posse de Patricio Aylwin, começou a hegemonia da "Concertación", coalizão que hoje reúne o Partido Socialista (PS), a Democracia Cristã (DC), o Partido Pela Democracia (PPD) e o Partido Radical Social-Democrata (PRSD).
A aliança venceu todas as eleições realizadas desde esta data - com exceção da última, em outubro de 2008 (municipais), quando a direita saiu vitoriosa das urnas pela primeira vez, já apontando o desgaste após quase 20 anos no poder.
Em 2009, este desgaste está sendo cobrado na conta de seu único candidato às eleições presidenciais, que acontecem no próximo domingo. O ex-presidente Eduardo Frei aparece superado nas pesquisas de intenção de voto por Sebastián Piñera, da direita, que lidera a corrida presidencial.
"O desgaste é absolutamente natural, devido à imobilidade do sistema eleitoral chileno, que não permite a representação das minorias e estimula a manutenção das mesmas figuras políticas", explicou à AFP Mauricio Morales, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade Diego Portales.
Para María de los Ángeles Fernández, analista da "Fundación Chile 21" (governista), "nunca antes a "Concertación" havia enfrentado um acúmulo de dificuldades como agora".
Segundo a analista, os problemas derivam "da falta de disciplina parlamentar, da fuga de figuras e casos de corrupção no aparalho estatal, entre outros fatores".
Nos últimos dois anos, o bloco enfrentou a saída de pelo menos dois senadores e uma dezena de deputados, a maioria da Democracia Cristã, que migrou para formar uma nova referência política.
O movimento rompeu o equilíbrio de um sistema político onde a centro-esquerda e a direita estão praticamente empatadas no Congreso.
Além disso, vários casos de corrupção em repartições estatais vieram à tona, com diferentes valores e envolvidos.