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Embaixador: Chile não se esquecerá da ditadura, mesmo se direita vencer eleições

Às vésperas das eleições presidenciais no Chile, as diferenças percentuais entre os três candidatos são mínimas. Pesquisas de opinião indicam que há chances de a coligação de centro-direita retornar ao poder, depois de 20 anos de redemocratização do país, que viveu uma das ditaduras mais violentas da América Latina. As pesquisas mostram ainda que a popularidade da atual presidente, Michelle Bachelet, não será suficiente para dar a vitória a seu candidato.

[SAIBAMAIS]Nos últimos dias, o debate esquentou com a possibilidade de revisão da Lei de Anistia. O embaixador do Chile no Brasil, Álvaro Díaz, negou que a eventual vitória Miguel Sebastián Piñera, da coligação Alianza (centro-direita), ameace os avanços alcançados em seu país e na América Latina.

Para o diplomata, ao assumir o governo, se vitorioso, Piñeira deverá manter algumas ações já efetivadas e não poderá fugir de discussões, como a questão da Lei de Anistia. ;No Chile ninguém esquece o que se passou. Ninguém esqueceu o que houve no Chile [no período do governo militar, de 19973 a 1990];, afirmou Díaz.

;Não acredito que Piñeira vá dilapidar seu patrimônio político fazendo bobagens;, acrescentou o embaixador. Pesquisas recentes mostram que o empresário Piñera têm a maioria das intenções de voto, seguido pelo ex-presidente Eduardo Frei, da coligação Concertación (esquerda), de Bachelet, e Marco Enriquez-Ominami Gumucio, independente (que era ligado à Concertación).

Segundo Díaz, independentemente de quem será o vitorioso nas eleições do próximo domingo (13), as relações com o Brasil vão ser mantidas como uma prioridade de governo. Se houver segundo turno, será em 17 de janeiro. "Os quatro candidatos disseram que têm admiração pelo presidente Lula [Luiz Inácio Lula da Silva]. Eles disseram ter muita simpatia por ele;, afirmou Díaz.

O embaixador ressaltou o fato de a atual presidente, Michelle Bachelet, mesmo com 80% de popularidade, demonstrar dificuldades para fazer seu sucessor. Ele atribui ao fator ;autonomia; do eleitorado um eventual fracasso do ex-presidente Eduardo Frei nas urnas. ;Os chilenos distinguem quem é a presidente e quem é o candidato. As pessoas que apoiam a presidente não apoiam necessariamente o candidato [dela]. São dois estilos distintos. Há um momento de desgaste envolvendo a coligação Concertación [há 20 anos no poder]. O desafio é como fazer essa renovação.;

Díaz aponta o desgaste e o racha interno na Concertación como fatores que explicam o surgimento do chamado fator supresa nas eleições, que é o deputado Marco Enríquez-Ominami Gumucio, independente, de 36 anos, que aparece em terceiro lugar nas pesquisas de opinião. ;Houve uma divisão na aliança Concertación e ele se desligou. É um candidato diferente, que apresenta novas propostas [Ominami mostra-se arrojado para os padrões chilenos em defesa do casamento entre pessoas do mesmo sexo e do direito ao aborto em situações específicas];, disse o diplomata.

Para o embaixador, a definição das eleições deverá ficar para o segundo turno. ;Ao que tudo indica, haverá segundo turno. Aí é uma nova eleição. Em caso de segundo turno, as forças estarão polarizadas entre os que apoiam a centro-direita e os que defendem a manutenção no poder da esquerda;. disse ele.