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Cabul saúda nova estratégia dos EUA no Afeganistão e talibãs renovam ameaças

CABUL - O governo afegão saudou nesta quarta-feira (2/12) o anúncio do presidente Barack Obama de enviar 30 mil militares suplementares dentro de sua nova estratégia militar para o Afeganistão. Para os talibãs, no entanto, o envio de mais soldados americanos só reforçará a resistência, assegurou um porta-voz do grupo islamita. "Obama verá desfilar muitos caixões de soldados americanos mortos no Afeganistão", declarou Qari Yusuf Ahmadi por telefone. "Sua esperança de controlar militarmente o Afeganistão não se tornará realidade. Os 30 mil soldados extras reforçarão a resistência e a luta. Eles se verão obrigados a uma retirada vergonhosa. Não há como cumprir suas esperanças e objetivos", concluiu o porta-voz. Um dia depois do anúncio de Obama, a força da Otan no Afeganistão informou a morte do 300º soldado americano este ano no país. "Um soldado americano da Isaf morreu na terça-feira quando sua patrulha foi atacada pelos insurgentes a leste do Afeganistão", indicou a Força Internacional de Assistência à Segurança (Isaf) da Otan, em um comunicado sem maiores detalhes. Esta baixa eleva para 486 o número de soldados estrangeiros mortos no país desde o começo de 2009. Diante das crescentes baixas americanas, o governo em Washington se sente cada vez mais pressionado com a guerra afegã, iniciada no final de 2001 com a invasão liderada pelos Estados Unidos para derrubar o governo talibã. Uma pesquisa USA TODAY/Gallup divulgada hoje revela que 55% dos americanos desaprovam a administração do conflito por Obama - um percentual muito mais elevado que o de uma sondagem semelhante realizada há quatro meses. Reforço Obama anunciou na noite desta terça-feira o envio de mais 30 mil soldados americanos ao Afeganistão, para reforçar uma campanha militar "vital" ao "interesse nacional" dos Estados Unidos. "Os 30 mil soldados suplementares seguirão na primeira parte de 2010, no ritmo mais rápido possível, para deter a rebelião e tranquilizar os grandes centros populacionais". Para derrotar a rede terrorista Al-Qaeda, que segue "planejando ataques neste momento", o plano inclui ainda o reforço institucional do Paquistão. "Este câncer fincou raízes na região da fronteira paquistanesa, o que exige uma estratégia que funcione nos dois lados da fronteira". Obama garantiu que o Afeganistão "não está perdido", mas reconheceu que nos últimos anos a situação regrediu diante da retomada da força dos rebeldes talibãs. Segundo o presidente, o envio de mais 30 mil soldados americanos e os esperados reforços dos aliados "nos permitirão acelerar a transferência de responsabilidade às forças afegãs e iniciar a retirada de nossas tropas em julho de 2011". "Tal como fizemos no Iraque, levaremos a cabo a transição de forma responsável, tomando em consideração as condições do terreno" e a avaliação dos comandantes militares. O presidente destacou a importância de se treinar as forças afegãs para que assumam suas responsabilidades: "Os dias de cheque em branco acabaram. Está claro para o governo afegão, e mais importante, para o povo afegão, que eles serão os responsáveis por seu próprio país". Segundo a Casa Branca, Obama disse ao presidente afegão, Hamid Karzai "que os esforços americanos e internacionais no Afeganistão não podem ser ilimitados e que seu alcance deverá ser avaliado à luz de progressos sensíveis e tangíveis dentro de 18 a 24 meses". No discurso em West Point, Obama criticou os que "sugerem que o Afeganistão é um outro Vietnã" e que afirmam que o país não pode ser estabilizado, para justificar uma "rápida retirada" para limitar as perdas. "Estas conclusões são baseadas em uma leitura errônea da história. Ao contrário do Vietnã, somos hoje apoiados por uma ampla coalizão, de 43 países, que reconhecem a legitimidade de nossa ação". Segundo o presidente, o envio de mais 30 mil homens à campanha afegã custará cerca de US$ 30 bilhões aos Estados Unidos em 2010. Com o aumento de contingente, os Estados Unidos terão cerca de 100 mil soldados no território afegão. Os EUA, com 70 mil homens, são o país com o maior número de tropas, distribuídas entre a Isaf (Força Internacional de Assistência à Segurança, da Otan) e a operação "Enduring Freedom", ambas sob o comando do general americano Stanley McChrystal. Da Isaf participam 43 países, entre eles os 26 membros da Otan, com um total de 71.030 militares. Isaf, por sua vez, assegurou um reforço de pelo menos 5 mil homens, além dos 30 mil já anunciados pelos Estados Unidos, conforme anunciou nesta quarta-feira a Aliança Atlântica. "Posso confirmar que os aliados (membros da Otan) e nossos sócios farão uma contribuição extra significativa, de pelo menos 5.000 soldados, e provavelmente algumas centenas a mais", declarou, em Bruxelas, o secretário-geral da organização, Anders Fogh Rasmussen. Esta cifra de 5 mil soldados suplementares já havia sido antecipada na semana passada por fontes militares. "Neste momento importante, a Otan deve demonstrar sua unidade e sua força uma vez mais", afirmou Rasmussen. "Trata-se de um combate comum", acrescentou.