Sob ameaça de ficar isolado no cenário internacional, o Brasil deverá reconhecer a legitimidade do resultado das eleições em Honduras, realizadas ao longo do dia de ontem (29). A análise é do único observador brasileiro no processo eleitoral hondurenho, o deputado federal Raul Jungmann (PPS-PE), que desde sexta-feira (27) percorre as ruas das principais cidades de Honduras e conversa com os eleitores.
;É inevitável o governo do Brasil mudar de posição. Isso pode não ocorrer agora. Mas tem de reconhecer que o processo eleitoral aqui em Honduras obedeceu aos princípios democráticos;, disse Jungmann à Agência Brasil. O deputado faz parte de um grupo de 300 observadores estrangeiros. ;O valor da vontade popular, quando é feita livremente, é soberano;, afirmou ele.
Jungmann disse que ;não tem dúvida alguma; de que, nas principais zonas eleitorais de Honduras, tudo ocorreu dentro da normalidade. Para ele, o possível percentual elevado de abstenção representa pouco no processo eleitoral hondurenho, pois o voto no país não é obrigatório.
O deputado federal afirmou ter ouvido entrevistas do presidente de Honduras, Roberto Micheletti, reconhecendo as eleições. Segundo Jungmann, o presidente deposto, Manuel Zelaya, estaria isolado.
Ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou que o Brasil não vai reconhecer o resultado das eleições em Honduras. ;O Brasil não tem por que repensar a questão de Honduras. É importante ficar claro que a gente precisa, de vez em quando, firmar convicção sobre as coisas, porque isso serve de alerta para outros aventureiros;, disse.
Segundo Lula, foi ;um sinal perigoso e delicado; o fato de os golpistas não terem permitido o retorno de Zelaya ao poder. ;Ainda existem muitos países, sobretudo da América Central, em situação de vulnerabilidade política. Portanto, o Brasil não tem que reconhecer nem repensar a questão de Honduras;, afirmou.
Para o governo brasileiro, reconhecer a legitimidade das eleições de Honduras durante a vigência do governo Micheletti é referendar a validade do golpe de Estado ocorrido em junho. No dia 28 de junho, uma manobra política organizada com apoio do Congresso Nacional, da Suprema Corte e das Forças Armadas depôs Zelaya.