MUNIQUE - John Demjanjuk, 89 anos, de origem ucraniana, acusado de cumplicidade no assassinato de 27.900 judeus em um campo de extermínio nazista durante a Segunda Guerra Mundial, começou a ser julgado nesta segunda-feira em meio a grande expectativa em Munique, no sul da Alemanha.
O acusado, que ocupa o primeiro lugar na lista de criminosos de guerra nazistas ainda vivos mantida pelo Centro Simon Wiesenthal, entrou pela primeira vez na sala de audiência em uma cadeira de rodas.
Quando a sessão foi retomada à tarde, Demjanjuk foi levado à audiência em uma maca, coberto até o pescoço por uma manta branca. Apesar disso, os médicos do tribunais atestaram que ele estava apto a ser julgado.
Em maio, Demjanjuk foi expulso dos Estados Unidos, onde vivia desde 1952. De lá, foi extraditado para a Alemanha, mas perdeu a nacionalidade americana e hoje é considerado um apátrida. Ele pode ser condenado à prisão perpétua se o tribunal de Munique decidir que ele de fato trabalhou durante seis meses de 1943 como guarda no campo de extermínio de Sobibor, atualmente na Polônia.
Durante este período, 27.900 judeus, sobretudo holandeses, morreram nas câmaras de gás. De acordo com a promotoria, o réu deve ter participado do extermínio sistemático.
Demjanjuk, no entanto, nega ter servido em Sobibor.
A audiência de um dos últimos grandes processos envolvendo crimes cometidos durante a era nazista começou com atraso, devido à multidão que tentava entrar no tribunal.
A sala de audiência só tem capacidade para comportar 150 pessoas, mas centenas de sobreviventes, acompanhados de suas famílias, e vários jornalistas de todo o mundo estavam presentes para acompanhar o julgamento.
Robert Cohen, holandês de 83 anos, é um dos demandantes. Sobrevivente dos campos de concentração, chegou a passar por Aushwitz. Sua família morreu em Sobibor.
"Se ele (Demjanjuk) estava lá, matou mais de cem pessoas por dia! Este seria o pior dos crimes", declarou Cohen à imprensa, mostrando a característica tatuagem azul no punho que era usada para marcar a identidade dos prisioneiros dos campos de extermínio.
Max Flam, holandês de 43 anos, estava na fila desde as 05H30 (04H30 GMT), mostrando uma fotografia antiga de seus avós, assassinados em Sobibor com outros 11 membros de sua família.
"Pouco importa a sentença, o que eu quero é justiça", disse Flam à AFP. Sua mãe, hoje com 90 anos, é demandante no processo, mas não pôde viajar de Amsterdã, onde mora, devido ao frágil estado de saúde.
A família de Demjanjuk alega que ele não sobreviverá ao processo, pois sofre de graves problemas de saúde, mas tanto a justiça dos Estados Unidos quanto a da Alemanha o consideraram apto a ser julgado, com duas audiências de 90 minutos por dia.
Em 1988, Demjanjuk foi condenado à pena capital em Israel, mas escapou devido a dúvidas sobre sua identidade. Na época, era suspeito de ter trabalhado como guarda no campo de extermínio de Treblinka.
É a primeira vez que a Alemanha julga um estrangeiro por crimes cometidos durante o regime nazista.
O célebre caçador de nazistas francês Serge Klarsfeld, no entanto, minimizou a importância do processo.
"É um pouco decepcionante, um alemão senil, que ocupava uma função subalterna, e que teria morrido de fome em um campo de prisioneiros" se tivesse se recusado a trabalhar em um campo de extermínio, declarou à AFP.
Referindo-se a processos anteriores contra criminosos de guerra nazistas, Klarsfeld disse considerar "uma lástima que isto termine em pizza. Estão julgando a infantaria do crime". Ele está em Munique para acompanhar as audiências.
"Os julgamentos atuais ou futuros contra nazistas se referem a pessoas que tinham 20 anos na época, guardas ou assassinos dos Ensatzgruppe" (grupos de intervenção encarregados de executar judeus nos territórios ocupados), lembrou o advogado.
Serge Klarsfeld conseguiu levar ao banco dos réus altos dirigentes nazistas como Klaus Barbie, chefe da Gestapo de Lyon condenado à prisão perpétua em 1987.