A jornalista Lubna Ahmed al-Hussein, condenada recentemente no Sudão por usar uma calça comprida, considerada um traje "indecente", revelou nesta terça-feira em Paris que recorreu ao véu islâmico integral, o 'niqab', para fugir de seu país.
"Eles quiseram me impedir de sair, então recorri ao niqab e saí mesmo assim", declarou. "Tive que fazer isso porque tinham me proibido de viajar", acrescentou.
[SAIBAMAIS]Em Paris, a jornalista foi recebida pelo ministro francês das Relações Exteriores, Bernard Kouchner, que elogiou sua luta "importante para as mulheres árabes e africanas".
"Ela teve a coragem de seguir adiante com sua rebelião, para que as mulheres não sejam detidas e chicoteadas. Esta mulher de simplicidade heróica é um modelo", enalteceu o ministro.
Ao lado de Kouchner, Lubna, 35 anos, denunciou novamente as violações dos direitos humanos cometidas pelo regime do presidente sudanês, Omar al-Bashir.
"Dezenas de milhares de mulheres são punidas com chicotadas por roupas que não forem consideradas apropriadas, em virtude uma lei do governo em Cartum", declarou.
A jornalista relatou que perguntou aos juízes de onde vinha o artigo do Código Penal condenando o uso de calças compridas pelas mulheres. "Eles responderam que vem da sharia (lei islâmica). Eu pedi então que me mostrassem o texto que justificasse essa repressão contra as mulheres por causa de suas roupas, mas eles não conseguiram fazer isso porque não existe tal disposição. Só existe na cabeça deles", contou.
O julgamento de Lubna teve repercussão mundial.
A jovem escreveu um livro sobre sua história intitulado "Quarenta chicotadas por uma calça".