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Quadrilha peruana matava para vender gordura humana a US$ 15 mil a garrafa

O interrogatório de Elmer Segundo Castillejos Aguero, Serapio Marcos Veramendi Principe e Enedina Estela Claudio foi bem além da rotina experimentada pela Divisão Antisequestro da Polícia Nacional do Peru (PNP). Diante do coronel Jorge Mejía, chefe da instituição, os três suspeitos deram detalhes dantescos de um caso que deve entrar para a história criminal da América Latina.

O bando confessou ter criado uma máquina para matar pelo menos 10 reféns - somente o corpo de Abel Matos Aranda, 29 anos, foi encontrado. O motivo do assassinato ficou por alguns minutos exposto sobre uma mesa da sede da polícia: garrafas de um litro com um líquido amarelado espesso.

Testes químicos comprovaram tratar-se de gordura humana de um indivíduo do sexo masculino. "Tivemos conhecimento da venda de gordura humana em Lima e da remessa do produto ao exterior", contou Mejía ao Correio, por telefone. Segundo ele, cada litro custava US$ 15 mil e era repassado a um integrante da quadrilha na Europa. As autoridades acreditam que a substância seria usada na produção de cosméticos, filtros solares e medicamentos contra o câncer. O grupo atuava em Huánuco, cidade de 600 mil habitantes localizada na região central do país.

"Essas pessoas perderam o respeito total pela vida e pelos valores. Quando perguntei o que sentiam quando matavam, respondiam: ;Nada, estamos acostumados;", afirmou Mejía. Ele contou à reportagem, em detalhes, como os criminosos atuavam. "Eles penduravam os corpos em ganchos semelhantes aos de frigoríficos. Sob eles, colocavam velas para derramar a gordura, que caía em um recipiente e depois era envasada em garrafas", relatou. "Antes, havia um processo de decapitação. Cabeça, braços e pernas eram retirados." Um comunicado de imprensa divulgado pela PNP explicou que o grupo usava um instrumento denominado "Wincha", uma caixa metálica de cor roxa com uma fenda pela qual se dispara uma machadinha presa a um cabo, para matar suas vítimas.

Provas

De acordo com Mejía, a equipe da Divisão Antisequestro identificou mais quatro suspeitos. "O encarregado de fazer a comercialização se chama Hilário Cudeña Simon - cujos apelidos são Jacinto ou Oscar - e está foragido", disse. O chefe da polícia admitiu que o comércio de gordura humana era considerado uma lenda, um dos mitos comuns à região andina. "Temos agora provas e dados científicos, além de testemunhas dos acusados", contou.

O Correio teve acesso a uma planta do "laboratório", como era chamado o local onde ocorriam as execuções. Uma parede com dupla camada de concreto tinha a função de abafar o som. Uma fileira de trípodes (armações de três paus unidos em sua parte superior com uma corda) sustentava os ganchos. Entre seis e oito velas grossas ficavam sob os corpos, com vasilhames de vidro. Outro recipiente decantava a mistura de gordura, sangue, água e impurezas.