CABUL - Hamid Karzai tomará posse nesta quinta-feira (19/11) para um novo mandato de cinco anos na presidência do Afeganistão sob o olhar atento da comunidade internacional, da qual quer reconquistar a confiança com a promessa de lutar contra a corrupção que domina seu governo.
A secretária de Estado americana Hillary Clinton, que multiplicou as advertências contra o Afeganistão, desembarcou nesta quarta-feira em Cabul, pouco antes do presidente do Paquistão, Asif Ali Zardari. "Nós nos encontramos num momento crítico, na véspera da posse do presidente Hamid Karzai", afirmou Hillary ante os empregados da embaixada brasileira. "Queremos ser um sócio comprometido do governo e do povo afegão", acrescentou.
Cerca de 800 convidados - entre eles 300 estrangeiros, ministros, diplomatas e personalidades - são esperados à cerimônia de posse. O discurso do presidente afegão é muito aguardado pela comunidade internacional, que espera um verdadeiro programa de governo e compromissos firmes contra a corrupção.
A reeleição de Karzai foi marcada por graves irregularidades e fraudes ocorridas no primeiro turno, no dia 20 de agosto, assim como pela desistência de seu adversário, Abdullah Abdullah, antes do segundo turno.
Entretanto, paira um certo cepticismo sobre a vontade do presidente afegão de reformar sua administração, apesar das pressões internacionais. "A longa lua-de-mel entre Karzai e o Ocidente chegou ao fim. Ele precisa agora parar de brincar de homem de poder e se tornar um líder", afirmou um alto representante europeu.
Para um responsável americano, "Karzai deverá em seu discurso de posse assumir um compromisso com o povo afegão, prometer lutar contra a corrupção, criar empregos, trazer segurança e melhorar os serviços básicos". "Tudo depende de sua vontade política. Já não se trata mais apenas de discursos - e Karzai é bom nisso - mas de atos para sustentar estes discursos", comentou outro diplomata americano.
O prazo dado ao governo afegão pela comunidade internacional para a concretização das primeiras ações vai até meados de 2010. Karzai prometeu erradicar a corrupção, que "arranhou a imagem do Afeganistão e do governo".
No entanto, no momento em que fez esta declaração, em seu primeiro pronunciamento público após a reeleição, Karzai estava ao lado de seus dois vice-presidentes, dois senhores de guerra de reputação duvidosa, entre os quais o "marechal vitalício" Mohammad Qasim Fahim, acusado de violações dos direitos humanos e tráfico de drogas. "A mensagem não foi perdida para todo mundo", comentou um diplomata ocidental. "Tudo vai continuar como antes, e o povo afegão vai continuar sofrendo".
O Afeganistão é assolado por uma corrupção endêmica até as mais altas esferas do Estado. O país ainda produz mais de 90% do ópio mundial e enfrenta a mortífera insurreição talibã.
Os Estados Unidos deixaram bem claro que a manutenção da ajuda econômica e o eventual envio de dezenas de milhares de soldados suplementares ao Afeganistão dependerão diretamente das providências que serão tomadas pelo governo de Karzai para combater a corrupção.
A ONG Transparência Internacional publicou terça-feira seu ranking anual dos países mais corruptos. O Afeganistão subiu do quinto para o segundo lugar entre 2008 e 2009. A Somália ocupa a liderança deste ranking. Mais de 100 mil soldados estrangeiros, entre os quais 68 mil americanos, estão atualmente mobilizados no Afeganistão.
O aeroporto de Cabul e as ruas principais do centro da cidade foram interditados, e as forças de segurança estão em alerta máximo para evitar qualquer ataque talibã.