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Fome: multinacionais são acusadas de controlar terras ricas do Terceiro Mundo

Várias ONGs acusaram as multinacionais do setor de alimentos de tentar comprar milhões de hectares de terras de boa qualidade que pertencem a pequenos camponeses do Terceiro Mundo. A denúncia foi feita durante a Cúpula da FAO sobre a segurança alimentar em Roma. [SAIBAMAIS]Quase 20 organizações de camponeses da América Latina e da África protestam desde segunda-feira em frente à sede da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) contra a compra em massa de terras por grandes empresas de agroalimentos. "Com a cumplicidade, inclusive, da FAO", denunciam. "Quase 80% das pessoas que passam fome vivem em zonas rurais; apesar disso, a FAO apoia as multinacionais, que encampam terras de pequenos produtores da Ásia, África e América Latina", destacou Henry Saragih, coordenador do movimento internacional antiglobalização, La Via Campesina. Quase 400 delegados provenientes de 70 países participam de uma Cúpula paralela organizada em frente à FAO e autorizada pela entidade das Nações Unidas. Segundo as ONGs "Grain" e La Via Campesina, "alguns governos, como o da Arábia Saudita e Coreia do Sul pressionam essa forma de agir, como estratégia comercial. "Mais de 100 bilhões de dólares estão em jogo e 40 milhões de hectares foram adquiridos, da Etiópia até a Indonésia", destacam. O líder líbio Muammar Kadhafi denunciou na FAO este "novo feudalismo", que se expande por toda a África, onde "investidores estrangeiros compram terras cultiváveis, transformando-os em novos latifúndios que devem ser combatidos", disse. Para o ministro brasileiro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, "é preciso levar em conta a realidade de cada país". Ele lembrou que, no mês passado, um decreto limitou a "compra de terras por estrangeiros no Brasil". Para a FAO, o setor privado é um "sócio chave" para aumentar a produção de alimentos, não somente do ponto de vista dos investimentos, mas pelo conhecimento, segundo o diretor da FAO, Jacques Diouf. As ONG criticam os gigantes do setor de agroalimentos, como a americana Monsanto, o aumento da produção de biocombustíveis (O Brasil é líder mundial de produção de etanol, junto com os EUA) e as novas tecnologias como os OGMs (transgênicos). "Com óleo de palma querem alimentar automóveis e não pessoas", lamentou Saragih. Segundo a pesquisadora filipina Renée Vellve, da "Grain", a Cúpula contra a fome da FAO aborda o problema sem encontrar soluções. "Os chefes de Estado querem favorecer tanto os pequenos camponeses quanto as multinacionais, mas isso é mera ilusão. O controle de terras por estas empresas gigantes com a lógica de produzir em massa para exportação acaba afetando sempre os produtos locais", explicou.