Paris - Brasil e França adotaram neste sábado uma proposta comum para a Conferência de Copenhague sobre o clima, com os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Nicolas Sarkozy pedindo posições mais audazes de Estados Unidos e China sobre a questão do aquecimento global.
"Tornamos público hoje um texto brasileiro e francês, porque queremos que Copenhague seja um sucesso, não aceitaremos um acordo qualquer", declarou Sarkozy à imprensa ao final de um encontro no Palácio do Elysée com Lula.
O presidente brasileiro destacou que "a posição do Brasil é muito clara (...) Acreditamos que é responsabilidade de todos adotar medidas para reduzir as emissões de gases do efeito estufa".
A "proposta comum" de Brasil e França não contempla cifras, mas sim uma série de "princípios", que Lula apresentou como "nossa Bíblia climática", que destaca que para os dois países "a luta contra a mudança climática é imperativa, mas deve ser compatível com um crescimento econômico duradouro e com a erradicação da pobreza".
Lula disse que o documento deve servir de "paradigma para canalizar as discussões de Copenhague", onde 192 países se reunirão em dezembro para fechar um acordo mundial sobre a mudança climática que substitua o Protocolo de Kioto.
A proposta franco-brasileira destaca ainda a "necessidade" de se criar uma organização internacional sobre meio ambiente ligada à ONU.
"Brasil não brinca com o clima e com seus compromissos", destacou Lula, que pediu "mais audácia a Estados Unidos em suas propostas" para Copenhague, antes de revelar que "na segunda telefonarei para Obama" para falar sobre isto.
"Não podemos permitir que Obama e Hu Jintao fechem um acordo tomando como base apenas a realidade econômica de seus países, sem levar em conta suas responsabilidades. O mundo é multipolar", destacou Lula.
Obama chegará neste domingo a Pequim, em sua primeira visita oficial à China. "Não exigimos o impossível, temos que fazer o razoável", disse Lula.
O governo do presidente Barack Obama não quer se comprometer com cifras vinculantes para reduzir suas emissões e prefere esperar que o Senado americano aprove primeiro uma lei neste sentido.
Segundo Sarkozy, "a primeira economia do mundo deve estar à altura do que esperamos (...) não há dúvidas de que Estados Unidos e China assumirão suas responsabilidades" na questão climática.
Estados Unidos e China são os dois principais responsáveis por emissões de gases do efeito estufa. Sarkozy destacou que com o apoio de Lula "vou fazer de tudo para reunir o maior número de países" em torno da proposta comum.
"A partir da próxima semana, a chanceler alemã (Angela) Merkel e eu encontraremos o primeiro-ministro dinamarquês Rasmussen (...) Pode ser que eu vá pessoalmente ao Brasil para convencer alguns países da região", indicou Sarkozy.
"Eu irei no fim do mês à Cúpula de Commonwealth em Tobago (...) Eu irei pessoalmente à África (...) Queremos carregar toda a África conosco", continuou.
"Irei a Manaus (Cúpula de países amazônicos), irei a Copehangue com Lula", afirmou Sarkozy, ao destacar que o Brasil é "o primeiro país emergente que compreende" o caráter crucial da mudança climática.
"Chegaremos a Copenhague com propostas ambiciosas", garantiu o presidente francês.
O Brasil, quarto emissor mundial de gases do efeito estufa, se compromete a reduzir em entre 36,1% e 38,9% suas emissões projetadas para 2020, como medidas que incluem uma redução de 80% no desmatamento da Amazônia.