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Berlim celebra os 20 anos da queda do Muro

Cerca de 100.000 pessoas se aglomeravam nesta segunda-feira nas ruas de Berlim para comemorar os 20 anos da queda do Muro, que selou o final da Guerra Fria e permitiu a reunificação da Alemanha e da Europa.

De guarda-chuvas, a chanceler alemã Angela Merkel e os chefes de Estado e de governo de 30 países cruzaram à noite o Portão de Brandemburgo, símbolo da divisão de Berlim. Ao seu lado, entre outros, destacavam-se os presidentes francês e russo, Nicolas Sarkozy e Dimitri Medvedev; a secretária de Estado americana, Hillary Clinton; e o premier britânico, Gordon Brown.

Sarkozy fez um apelo à "derrubada dos muros que ainda dividem cidades, territórios, povos"; Brown pediu "o fim da proliferação nuclear, da pobreza extrema e da catástrofe climática".

Medvedev solicitou aos povos que "superem, juntos, a crise que nos afeta".

Em Moscou, o primeiro-ministro Vladimir Putin disse que foi "uma data especial" que permitiu à Alemanha "riscar um passado doloroso", mas significou para a Rússia "começar de novo quase do zero, em condições muito difíceis".

A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, conclamou a Europa e os Estados Unidos a empreenderem esforços para "derrubar os muros" da intolerância religiosa.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, falou de surpresa aos berlinenses na noite desta segunda-feira, através de mensagem em vídeo.

"Poucos entre nós teriam previsto que um dia a Alemanha unida seria dirigida por uma mulher vinda de Brandemburgo (ex-RDA, antiga República Democrática Alemã) ou que seu aliado americano seria dirigido por um homem de origem africana, mas o destino é aquele que os homens constroem", declarou Obama.

A chanceler, criada na RDA, a antiga República Democrática Alemã, e que começou a carreira política depois da derrubada do Muro, recordou nos últimos dias que essa queda a pegou de surpresa: "Nos anos 80, jamais acreditaria que o Muro caísse enquanto ainda vivesse".

Na mesma linha, o ex-líder soviético Mikhail Gorbachev afirmou nesta segunda-feira que as pessoas acreditavam na queda do Muro de Berlim, mas tanto ele como o ex-chanceler alemão Helmut Kohl foram surpreendidos pela rapidez dos fatos.

"O chanceler Kohl achava que não cairia antes do século XXI. Não éramos clarividentes", afirmou Gorbachev em Berlim, onde participava das cerimônias.

Gorbachev era o líder da União Soviética quando uma rebelião popular pacífica conduziu as autoridades da comunista República Democrática Alemã (RDA) a autorizar as pessoas a cruzar o Muro de Berlim.

Onze meses depois a República Federal Alemã e a RDA se reunificaram.

A festa noturna começou com um concerto da orquestra Staatsoper de Berlim sob a batuta do maestro argentino-israelense Daniel Barenboim, ao som de Wagner, Sch;nberg, e de uma canção tradicional berlinense interpretada pelo tenor español Plácido Domingo, que o público acompanhou com palmas.

Os participantes se aglomeraram, em seguida, ao longo das mil peças de um dominó gigante de poliestireno que foram derrubadas para simbolizar esse capítulo da história.

O ex-líder sindical polonês Lech Walesa e o ex-dirigente húngaro Miklos Nemeth derrubaram a primeira peça desse dominó de 2,5 metros de altura.

Nemeth havia autorizado, na época, os alemães do Leste a cruzar a fronteira austro-húngara, provocando um êxodo.

Sob o clamor da multidão e das luzes dos holofotes, a queda das peças criou o efeito de uma longa serpentina de cores.

Seguiram-se um show com fogos de artifício e uma apresentação do cantor Bon Jovi.

Em 9 de novembro de 1989, o regime comunista da RDA, pressionado por centenas de milhares de manifestantes que pediam liberdade, optou por deixar passar livremente seus cidadãos.

No início do dia, Merkel cruzou um dos locais simbólicos do Muro, a ponte de Bornholmer Strasse, em companhia de Walesa e do último dirigente soviético, Milhail Gorbachev.

Merkel deu início na manhã desta segunda-feira às cerimônias de comemoração do 20; aniversário da queda do Muro de Berlim comparecendo a um ato ecumênico na igreja de Gethsemani, na antiga Berlim Oriental, um dos redutos da dissidência e das manifestações que, em 9 de novembro de 1989, obrigaram a Alemanha comunista - a desaparecida República Democrática da Alemanha (RDA) - a abrir suas fronteiras.

"Não é um dia de festa só para a Alemanha, mas para toda a Europa e para as pessoas que conquistaram mais liberdade, desde a Rússia a até muitas outras partes do mundo", disse a chanceler, vestida com um casaco de veludo azul marinho.

Dirigindo-se a Gorbachev, Merkel declarou: "Deixou que as coisas acontecessem, com valentia, e isso foi muito mais do que esperávamos. Obrigada de todo o coração".

A queda do Muro foi o "resultado de uma longa história de falta de liberdade e de luta contra esta falta de liberdade. Na Alemanha, não fomos os primeiros mas estávamos lá quando a Guerra Fria terminou", acrescentou a chanceler, referindo-se aos esforços da Polônia e da Hungria por libertar-se do jugo comunista.

O Sindicato Solidaridade foi "um incrível aliciador", disse, com um gesto em direção ao ex-presidente polonês Lech Walesa, então líder desse grupo.