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Atentados em Bagdá deixam pelo menos 130 mortos e 700 feridos

BAGDÁ -Dois carros-bomba explodiram em dois prédios do governo iraquiano em Bagdá neste domingo, 25/10, matando mais de 130 pessoas e ferindo outras centenas. O ataque foi o mais violento do ano no país. A violência no Iraque havia diminuído desde que xeiques tribais apoiados pelos Estados Unidos conseguiram enfraquecer o poder de militantes da Al Qaeda e Washington enviou mais tropas. Contudo, os ataques continuam comuns num país que está tentando se reconstruir de anos de conflitos, sanções e revoltas populares. O primeiro atentado foi executado às 10h30 contra o ministério da Justiça e o do Trabalho e Assuntos Sociais, que ficam um de frente para o outro, na rua Haifa. Dez minutos depois aconteceu a segunda explosão, diante da sede do governo de Bagdá, na mesma área. "Os crimes do Baath e da Al-Qaeda não conseguiram bloquear o processo político e que as eleições aconteçam. É a mesma mão manchada de sangue que cometeu os atentados de 19 de agosto. Castigaremos os inimigos do Iraque", afirmou em um comunicado o primeiro-ministro Nuri al-Maliki, que visitou o local dos atentados. No passado, o Iraque acusou a Síria de dar refúgio a membros do partido Baath do falecido ditador Sadam Hussein. "Contamos 130 corpos e 712 feridos. E recolhemos membros que podem corresponder a seis corpos", declarou um funcionário do ministério da Saúde. Ao que tudo indica foram atentados suicidas, como no duplo ataque de 19 de agosto contra os ministérios das Relações Exteriores e das Finanças, que deixaram mais de 100 mortos. "Não descarto que os atentados sejam contra as eleições. Têm a marca da Al-Qaeda e de seus aliados que se recusam a ver que o Iraque recupera a estabilidade", afirmou o porta-voz do governo, Ali al-Dabbagh. "É obra de um grupo que se encontra no interior do Iraque e que coordena sua ação com grupos no exterior", completou. Logo depois da explosão diante dos ministérios era possível ver diversos corpos mutilados e pedaços de corpos espalhados, em meio a um rio de sangue. No primeiro dia da semana, o trânsito era intenso no momento da ataque e dezenas de veículos foram atingidos. A polícia iniciou uma coleta em sacos plásticos dos documentos de identidade das vítimas. "Por quê fizeram isto? Por causa das eleições, eles querem desafiar o governo", disse Mohamed, sentado no chão com a camisa ensanguentada, diante da sede do governo. No ministério da Justiça, os danos eram ainda mais graves e os bombeiros tiveram que usar escadas para retirar as vítimas. "Estava trabalhando quando aconteceu uma enorme explosão, as pessoas caíram ao meu redor, o escritório ficou completamente escuro e de repente eu estava no hospital", relatou Haidar Assem, engenheiro de 30 anos que trabalha para o município. Dezenas de pessoas correram para o hospital Al-Karama para consultar a lista de vítimas. "Onde está Kazem, onde está meu marido? Os vizinhos me disseram que ele estava aqui, mas eu não o encontrei", lamentava Um Ahmed, de 45 anos. No sábado, o comandante do Exército já havia advertido para o risco de aumento da violência nos próximos nove meses, em virtude da celebração das eleições gerais e da posse de um novo governo. Em uma entrevista, o general Ali Gheidan também se declarou preocupado com as consequências de um eventual adiamento da eleição prevista para janeiro. Os líderes políticos iraquianos ainda tentam chegar a um acordo sobre a nova lei eleitoral, o que permitiria a celebração de eleições em 16 de janeiro. Até o momento o Parlamento não chegou a um acordo sobre o texto por uma disputa entre árabes e curdos pelo controle da região petrolífera de Kirkuk. O presidente do Parlamento, Iyad al Samarrai, anunciou que enviaria a lei eleitoral ao Conselho Político de Segurança Nacional para que este adotasse uma decisão, o que possibilitaria uma votação.