MONTEVIDÉU - O primeiro presidente de esquerda do Uruguai, Tabaré Vázquez, tem mais de 60% de aprovação ao final de seu mandato, com um balanço favorável nas áreas econômica, social e militar, mas com uma política externa errática e um fracasso no campo da segurança.
O cientista político Alvaro Garcé afirmou que do ponto de vista da administração da economia, o governo usufruiu da boa conjuntura econômica internacional que durou até a crise global, e o Uruguai foi um dos poucos países do mundo a não sofrer recessão.
O analista Juan Carlos Doyenart considera que o governo de Vázquez, que entregará o poder no dia 1º de março ao vencedor das eleições de 25 de outubro - que pode ser decidida em segundo turno em 29 de novembro - teve "uma administração acertada da macroeconomia, o que permitiu aproveitar a conjuntura".
Os dois destacaram as políticas sociais de combate à pobreza e redução do desemprego. O índice de pobreza caiu de 26% em 2007 a 20,5% em 2008, enquanto a indigência passou de 2% a 1,5%, segundo o Instituto Nacional de Estatística.
Também destacaram a importância do Plano Ceibal, que em dois anos e meio deu a todos os estudantes e professores das escolas públicas uruguaios com um computador, que tanto governo como oposição consideram "revolucionário".
Os dois apontam ainda a reforma tributária, que instaurou o imposto de renda das pessoas físicas, considerado um êxito apesar dos problemas" de elaboração e implementação, e das queixas da classe média. Para Doyenart "acarretou uma simplificação e racionalização do sistema e melhorou a capacidade arrecadadora do governo".
Garcé ressaltou como sucesso a "afirmação clara do governo sobre o poder militar", levando em consideração as crises nos anos posteriores à ditadura (1973-1985). "Os militares agora têm menos peso e estão absolutamente subordinados ao governo, que fez muita pressão para que divulgassem informações e entrou nos quartéis com escavadeiras, com as descobertas de corpos de desaparecidos", afirma.
Neste período, foram condenados oito ex-repressores por violações aos direitos humanos e processados os ex-ditadores Juan María Bordaberry (1973-1976) e Gregorio Alvarez (1981-1985).
Pontos negativos
Nos pontos negativos do governo Vázquez, Garcé citou uma política internacional errática, com sinais confusos sobre o Mercosul e se estava ou não disposto a assinar um TLC com os Estados Unidos, ao mesmo tempo que não melhoraram muito as relações internacionais nem com a região.
Para Doyenart, o país teve um problema sério de inserção internacional; não houve uma política clara sobre a estratégia e o governo demorou para entender que as relações não acontecem por afinidades ideológicas.
Na área da segurança, Garcé aponta um "fracasso estrondoso", com o aumento da criminalidade. "O governo foi muito indeciso nesta área. A esquerda pagou o preço do aprendizado e de sair da visão de que o delinquente é uma vítima", disse Doyenart. Garcé destaca ainda que as relações com a oposição foram muito ruins, aconteceram pressões indevidas sobre o Judiciário e que em algumas ocasiões o governo se afastou do republicanismo, mas que esta não foi a tônica.
Vázquez - que também vetou uma lei de aborto e iniciou uma luta frontal contra o tabaco - chega ao fim do mandato com mais de 60% de popularidade e "está muito bem posicionado se resolver disputar as eleições em 2014", conclui Doyenart.