O narcotráfico é o principal problema, e a integração pelo comércio, uma solução possível. No encontro realizado ontem na sede da Federação de Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o colega Álvaro Uribe deixaram claro que Brasil e Colômbia têm muito em comum. Lula prometeu "dobrar o comércio entre os dois países", da ordem de US$ 3 bilhões em 2008, em um ano e dois meses de mandato que lhe restam. Mas também cobrou de Uribe garantias por escrito de que o uso das bases colombianas por tropas americanas não afetará os países vizinhos.
"Vamos encontrar uma solução, já que Uribe e (o presidente americano Barack) Obama concordam que as bases são para cuidar do problema interno da Colômbia", afirmou Lula, que espera assinar em breve um acordo sobre o assunto com a Colômbia. O presidente brasileiro também pediu transparência entre todos os países da América Latina sobre assuntos estratégicos. "O Brasil propõe que haja um conselho de defesa (sul-americano) para mostrar o que o Brasil tem com a França, com a Rússia. Não deve haver segredos no processo de integração que estamos fazendo", completou.
Por sua vez, Uribe ressaltou que a Colômbia nunca foi um país ofensivo. "O Brasil sabe de nossos esforços para combater o narcotráfico (1). Temos conversado para que haja mais confiança. Temos instituições fortes e uma Justiça independente e autônoma", disse. O governo colombiano vem defendendo o uso das bases por militares americanos como continuação do Plano Colômbia de combate às drogas. Lula também admitiu que vai levar um tempo até que os problemas da violência causada pelo crime organizado sejam resolvidos no Brasil, em clara referência ao helicóptero da polícia que foi derrubado a tiros por traficantes, no Rio de Janeiro, no último fim de semana. E propôs que Brasil e Colômbia façam um acordo para proteger a fronteiras comum. "Não podemos permitir que o narcotráfico ganhe dos Estados brasileiro e colombiano", afirmou.
Outra proposta que deve sair do papel é uma reunião entre os países que têm fronteiras na Amazônia, em 26 de novembro, em Manaus, para discutir uma proposta conjunta para a conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas marcada para dezembro. "Este é um momento de ouro para discutirmos a Amazônia em Copenhague", disse Lula.
O encontro na Fiesp contou com a participação de 120 empresários colombianos e 150 brasileiros. "A ideia é diminuir o deficit que a Colômbia mantém com o Brasil, e que no ano passado chegou a US$ 1,53 bilhão. Isso se explica em boa parte porque nós compramos muitos aviões (brasileiros)", revelou Uribe. Segundo Lula, o Brasil poderia ajudar no financiamento de obras de infraestrutura dos países vizinhos. "Queremos que o BNDES financie também a agropecuária colombiana". Lula prometeu que a Vale investirá US$ 380 milhões na Colômbia. "E pode investir até mais", antecipou.
1 - Obama aprova
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, renovou seu aval à política antidrogas de Brasil e Colômbia. Assinou uma "determinação presidencial" instruindo o Departamento de Estado a continuar com o Brasil o programa de vigilância de aviões suspeitos de transportar drogas - inclusive com sinal verde para derrubá-los. O mesmo programa foi renovado com a Colômbia em agosto. Obama reiterou que os carteis colombianos "continuam ameaçando a segurança nacional, a política externa e economia" dos EUA e prorrogou outra medida: o bloqueio, no país, de todas as propriedades que desempenhem papel no tráfico procedente da Colômbia.