VERONA - Vestindo camisas amarelas e munidos rádios de comunicação para chamar a polícia, voluntários patrulham as ruas de Verona: o governo de Silvio Berlusconi legalizou recentemente as polêmicas "rondas" que a esquerda não hesita em comparar às patrulhas da época do fascismo.
Logo que a noite cai, Giuliano, Paolo e Samuele saem para percorrer o bairro que rodeia a basílica de San Zeno Mayor. Todos são membros da associação de pescadores de Verona, cidade do nordeste da península. Desde que a prefeitura, onde o movimento anti-imigração Liga Norte é maioria, autorizou há um ano a criação das "rondas cidadãs", Giuliano, Paolo e Samuele são também "assistentes cívicos".
"Somos como câmeras de segurança com pernas", explica Gilberto Domenechini, presidente da associação, que acaba de chamar a polícia para alertar que o cadeado da porta de um edifício ocupado foi violado.
As rondas espontâneas de cidadãos surgiram no opulento norte da Itália há cerca de dez anos, patrocinadas quase sempre por militantes da Liga Norte, movimento inicialmente separatista que agora responsabiliza os imigrantes pelo aumento da insegurança e da criminalidade. Mas o governo de direita de Berlusconi, que ganhou as eleições prometendo mais segurança aos cidadãos, decidiu legalizá-las através de um decreto que entrou em vigor em agosto deste ano.
O Vaticano condenou a criação das rondas, alegando que sua existência representa "a abdicação do Estado de direito".
Os voluntários, em geral policiais aposentados, devem patrulhar a pé em grupos de no máximo três, não podem portar armas e só são aceitos se não pertencerem a nenhum movimento político. A lei estabelece uma série de princípios, mas cabe às prefeituras coordenar as patrulhas. Assim, administradores de grandes cidades italianas como Nápoles e Veneza se negam a organizar as polêmicas "rondas".
Em Verona, no entanto, a ideia foi abraçada com entusiasmo. "Os assistentes cívicos patrulham as zonas perigosas para que os cidadãos que tinham medo de ir lá possam voltar. As forças da ordem podem ficar encarregadas de outros assuntos", defende o prefeito Flavio Tosi, acrescentando que a cidade já registrou "uma queda no número de delitos".
"Há dois anos e meio, esta cidade estava cheia de vendedores ambulantes, de lavadores de para-brisa em cada semáforo e bairros degradados pela presença de ciganos. Tudo isso já não existe mais", afirmou em tom satisfeito.
"Nos sentimos mais seguros. Com todos esses imigrantes, não estávamos tranquilos", disse Paola Fontani, de 66 anos. "Esta é uma cidade fundamentalmente pacífica, nada mudou", ponderou Matteo Mischi, de 38 anos, contrário às acusações de seus conterrâneos contra os imigrantes.