O relator da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Direito Humano à Alimentação Adequada, Olivier de Schutter, alertou nesta terça-feira (13/10) que a produção mundial de alimentos precisa aumentar 70% até 2050 para suprir a demanda crescente.
"Temos que enfrentar a situação", afirmou, ao participar do seminário Exigibilidade do Direito Humano à Alimentação Adequada e o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, em Brasília. Durante a abertura do evento, ele lembrou que mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo passam fome. "Isso é um recorde", disse.
A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) calcula que apenas os países em desenvolvimento precisam investir anualmente US$ 44 bilhões em agricultura para alimentar sua população - calculada em 9 bilhões de pessoas até 2050. Atualmente, os investimentos são de US$ 7,9 bilhões.
Schutter destacou, entretanto, que o aumento da produção de alimentos representa apenas "parte da equação" que envolve a segurança alimentar. Para ele, a fome é uma questão "multifatorial", que exige a inclusão de temas como cooperação internacional no debate, além de mecanismos que exijam dos governos não apenas a ampliação, mas o monitoramento da produção de alimentos.
O representante da FAO no Brasil, José Tubino, avaliou que o mundo tem "desafios gigantescos" provocados por "crises simultâneas que geram grande volatilidade da situação mundial". Ele citou, como exemplo, as crises financeira e energética e perguntou se será mesmo possível continuar transportando alimentos "de um lado do planeta a outro", como muitos países ainda fazem.
"É preciso pensar em como incentivar a produção de alimentos, em como reorganizar o mercado das commodities, na situação dos recursos naturais, sobretudo no Brasil e na América Latina, e em bioenergia", ressaltou.
Para Tubino, o mundo terá que enfrentar "mudanças radicais", inclusive provocadas pelas alterações climáticas. A grande pergunta, segundo ele, é se é possível continuar produzindo alimentos da mesma forma como é feito atualmente. O representante da FAO cobrou ainda a criação de uma aliança internacional contra a fome.
"Vamos ter a Cúpula Internacional da Alimentação, de 16 a 18 de outubro em Roma, e esperamos que os chefes de Estado tomem as decisões consideradas fundamentais para enfrentar a crise alimentar".