Mais de 60 países da América do Sul e da África reunidos desde sábado na Venezuela chegaram a um acordo sobre uma declaração final que fixará as bases de uma cooperação birregional eficaz em âmbitos como finanças, energia, meio ambiente, tecnologia e saúde.
A II Cúpula América do Sul-África (ASA), realizada na Ilha Margarita (norte da Venezuela), reafirmou sua vontade de concretizar uma união Sul-Sul, que aumentará sua força em tempos de crise e fará com que esses países formem um bloco com voz própria em organismos multilaterais.
"Começa uma nova etapa na união América do Sul e África (...) Queremos que nossa casa seja modelo de como o Sul se une com o Sul", reafirmou neste domingo o presidente venezuelano e anfitrião, Hugo Chávez.
"Temos que voltar a nossos países com a convicção de que estamos dando um passo extraordinário (...) O século XXI pode ser o século de África e América Latina. Basta termos claro que dependemos mais de nossas decisões que dos sonhos de ajudas externas", assegurou o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.
Na declaração final dessa cúpula, que ainda não foi divulgada, destacam-se a necessidade de novas relações financeiras e comerciais, de impulsionar associações energéticas e concretizar projetos em educação, saúde, esportes e tecnologia, entre outros.
Dentro das iniciativas financeiras, sete países sul-americanos assinaram no sábado à noite a constituição do Banco do Sul, projeto lançado em 2007 e que servirá como fundo econômico que aumentará a independência da região frente a instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Segundo Chávez, o Banco do Sul deverá se unir com uma instituição africana similar para criar um grande Banco Sul-Sul.
A cúpula de Margarita foi realizada quase três anos depois da primeira cúpula ASA e, no total, estiveram presentes cerca de 30 chefes de Estado. O desafio, objeto de intensas negociações há semanas, era passar das palavras à prática com projetos que possam ser avaliados na Líbia, em 2011, na próxima cúpula birregional.
Entre as questões mencionadas com insistência nas plenárias da cúpula está a necessidade de "refundar" instituições multilaterais como a ONU.
O líder líbio, Muamar Kadafi, que realizou neste encontro sua primeira visita à América Latina, insistiu no caráter obsoleto do Conselho de Segurança da ONU.
"Exigimos uma nova ordem mundial que apenas será possível se rompermos a inércia autodestrutiva da atual", exigiu por sua vez o presidente paraguaio Fernando Lugo.
"Aqui está presente 30% dos votos da ONU. Podemos formar um bloco de muita influência para mudar uma ordem mundial tremendamente injusta", disse o equatoriano Rafael Correa.
Outra das questões fundamentais foi a integração energética das duas regiões que reúnem 24% dos hidrocarbonetos do mundo e onde há grandes produtores de petróleo como Venezuela e Nigéria.