A Venezuela recebe neste sábado representantes de cerca de 60 países africanos e sul-americanos para uma cúpula destinada a concretizar as primeiras iniciativas de cooperação entre as duas regiões nos âmbitos energético, financeiro, educativo e da saúde.
"Bem-vindos à (ilha) Margarita", disse o presidente venezuelano e anfitrião, Hugo Chávez. "Apenas unidos seremos livres e deixaremos às gerações futuras um mundo de iguais".
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou que "o século XXI nos encontra cada vez mais unidos, não existe desafio global que não possa ser enfrentado em conjunto por África e América do Sul, e não existe desafio que possa ser enfrentado sem América do Sul e África".
"Estamos começando este mecanismo que nos parece vital: a união da América do Sul com a África. Dentro desta estrutura do mundo do século XXI que será pluripolar, a África se tornará um grande pólo, do mesmo modo que a América do Sul", afirmou Chávez.
"Conformaremos verdadeiras potências e nossa união contribuirá enormemente ao que (Simón) Bolívar chamava de equilíbrio do mundo. Por isto é uma cúpula vital".
Chávez teve palavras especiais para o líder líbio, Muamar Kadafi, que visita a América Latina pela primeira vez em 40 anos no poder, e o chamou de "irmão", confessando sua "admiração" por ele.
"A próxima cúpula se realizará na Líbia, em 2011, e queremos trabalhar conjuntamente para ver os sucessos alcançados", disse Kadafi ao tomar a palavra.
Chávez anunciou que o convênio de constituição do Banco do Sul, iniciativa lançada em 2007, será firmado durante a cúpula, e que a instituição terá um capital global de 20 bilhões de dólares.
O Banco, que reunirá Brasil, Argentina, Venezuela, Bolívia, Equador, Uruguai e Paraguai, visa estabelecer uma entidade financeira multilateral na América do Sul em contraposição ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e a outras instituições de crédito controladas pelos países industrializados.
Segundo a presidente argentina, Cristina Kirchner, "esta cúpula permitirá aprofundar os vínculos, não somente de caráter político, como também de caráter comercial para os dois continentes (...) Sabemos que a África precisa de muita ajuda e solidariedade e que também pode fornecer muitas coisas".
Delegados e ministros das Relações Exteriores debatem o documento final, que será firmado no domingo.
O objetivo da reunião é criar projetos concretos de cooperação Sul-Sul que traduzam em fatos as declarações de Abuja e possam ser avaliados dentro de dois anos, na terceira cúpula birregional.
No projeto de declaração destacam-se temas como a necessidade de se criar uma nova arquitetura financeira, o desejo de concretizar projetos comuns no âmbito energético, a rejeição ao tráfico de drogas que assola as duas regiões e o respeito ao princípio da não-ingerência nas decisões soberanas dos povos.
Os países sul-americanos desejam incluir uma menção à crise política que Honduras atravessa há três meses.
Outro dos pontos que estão em discussão é a necessidade de se reformar instituições como a ONU e seu Conselho de Segurança, o que interessa particularmente ao Brasil.