O deposto presidente hondurenho, Manuel Zelaya, pediu nesta sexta-feira a seus seguidores que continuem com as mobilizações contra o regime de fato, depois que quatro candidatos presidenciais se reuniram com ele, mas se negaram a pressionar o governo para que seja restituído ao poder.
"Exortamos à resistência que mantenha a batalha até que, juntos, povo e presidente, consigam as reformas constituiconais e a queda dos usurpadores", pediu Zelaya em um comunicado, lido por seu colaborador Eduardo Reina através da Rádio Globo.
Zelaya se reuniu na noite de quinta-feira, na embaixada do Brasil onde se encontra refugiado, com quatro candidatos que apoiaram o golpe de Estado de 28 de junho que o derrubou: Elvin Santos (de seu Partido Liberal), Porfirio Lobo (Partido Nacional), Felícito Avila (Democracia Cristã) e Bernard Martínez (Partido Integração e Unidade).
A reunião de Zelaya com os políticos aconteceu com o aval do governante de fato, Roberto Micheletti.
"Obtivemos o compromisso do senhor Micheletti de reiniciar o diálogo com base neste referencial (o plano do presidente da Costa Rica, Oscar Arias) ou em qualquer outro", para buscar uma saída à crise política do país, afirmou o candidato do Partido Liberal, Elvin Santos, um dos aspirantes à presidência hondurenha.
Simultaneamente, a chancelaria do regime de fato divulgou um comunicado confirmando que Micheletti está aberto a retomar o diálogo para superar a crise.
"O governo confirma que aceitou a proposta do ex-presidente (dos Estados Unidos) Jimmy Carter para que visite nosso país nos próximos dias, com uma missão integrada pelo presidente da Costa Rica, senhor Oscar Arias, e o vice-presidente do Panamá, senhor Juan Carlos Varrela".
O "início do diálogo" já havia sido anunciado por Zelaya, após conversar com o bispo auxiliar de Tegucigalpa, Juan José Pineda, que foi à embaixada do Brasil.
Zelaya revelou que na noite de quarta-feira se entrevistou com "um representante do governo de fato", e qualificou a conversa de início "positivo" do diálogo nacional.
O governo de fato destacou que diante da decisão de aceitar a visita de Carter e de Arias a Tegucigalpa, pediu o adiamento da viagem que o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, faria neste final de semana a Honduras, à frente de um grupo de chanceleres da região.
"O presidente Roberto Micheletti Baín estará à disposição para receber, posteriormente e em uma data acertada pelos canais diplomáticos, a missão integrada por alguns chanceleres americanos e por funcionários da OEA".
O conflito político em Honduras se agravou na segunda-feira passada, quando o presidente deposto voltou secretamente ao país, após quase três meses de exílio, e se refugiou na embaixada do Brasil.
Em Nova York, o chanceler brasileiro Celso Amorim pediu nesta sexta-feira um pronunciamento do Conselho de Segurança da ONU para pôr fim ao cerco da embaixada de seu país por parte do governo de fato.
"A embaixa está virtualmente sitiada", afirmou Amorim aos 15 membros do Conselho de Segurança reunidos em sessão formal.
Segundo Amorim, a sede diplomática é alvo de "atos de acossamento", incluindo cortes de luz, equipamentos sonoros e obstáculos à livre circulação de seu pessoal.
O chanceler denunciou que essas ações constituem uma clara violação da Convenção de Viena e pediu ao Conselho de Segurança da ONU uma "condenação expressa" para evitar qualquer outro ato hostil.