O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, já não se aferra ao poder como algumas semanas atrás. Por meio do celular de sua mulher, Xiomara Castro, o estadista falou com exclusividade ao Correio, do interior da Embaixada do Brasil em Tegucigalpa. ;Vim para ajudar meu país e meu povo. Se não o fizesse, creio que estaria cometendo um erro;, admitiu. Zelaya preferiu omitir detalhes do acordo que lhe permitiu retornar ao país e se abrigar na representação diplomática brasileira. No entanto, não se furtou em elogiar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ; um ;amigo da democracia e da América Latina;, na opinião dele. O homem que foi retirado de pijama da residência oficial, na madrugada de 28 de junho, por militares afirmou estar disposto a correr o risco de ser preso. E se disse ;muito satisfeito e orgulhoso; pelo apoio do Brasil na retomada ao diálogo rumo à reconciliação nacional.
Quais as bases do acordo para que o senhor pudesse ficar na Embaixada do Brasil?
Nós viajamos durante 15 horas, com diferentes transportes e tipos de caminho até que conseguimos chegar aqui e chamar ao diálogo a pessoa que se coloca neste momento como presidente, não reconhecido pelo povo hondurenho. Não estou autorizado para dar detalhes do acordo. Eu realmente me dirigi a um amigo, como é o presidente Lula. Um amigo da democracia, da América Latina, um estadista do tamanho do Brasil. Toquei o coração de Lula e pedi a ele colaboração para iniciar o diálogo aqui em Honduras. Um diálogo que tem por objetivo a democracia. Eu me sinto muito satisfeito e orgulhoso por fazê-lo com o apoio do Brasil, do chanceler (Celso) Amorim, de Marco Aurélio (Garcia, assessor especial da presidência para assuntos internacionais) e de outros dirigentes que estão nos apoiando.
O que pretende negociar com o governo de fato de Roberto Micheletti?
Estou disposto a fazer qualquer acordo. O melhor é buscar um acordo pacífico, não? Eu sou um homem de paz. Quero paz. Não busco armas. Não estou fazendo uma expressão que não seja a de buscar um diálogo. E é isso que me serve para encontrar o eco de que necessita a comunidade internacional e a comunidade hondurenha. O povo está saindo às ruas, estão vindo de diferentes lugares de Honduras. Esse diálogo tem que ser acompanhado e aprovado pelo povo hondurenho. Estamos aguardando membros da sociedade e de comissões da ONU para dialogar.
O senhor não trabalha com o risco de ser preso?
Qualquer risco; Qualquer compromisso, qualquer responsabilidade ou trabalho estamos dispostos a fazer. Corresponder aos serviços dos irmãos, estamos dispostos a fazer. Contanto que este país volte à calma e que Honduras possa começar um rumo diferente do que tem hoje. Temos vivido 86 dias de repressão, de violação dos direitos humanos, de greves indefinidas, de assassinatos. Honduras não merece isso.
Mesmo que seu retorno lhe custe o poder, está disposto a negociar?
Sempre estaremos dispostos a buscar um acordo para temas divergentes e a respeitar a soberania popular.
Como o senhor vê a questão da reeleição?
É um processo de mudança, de reforma. É o que estão fazendo o presidente (Álvaro) Uribe (da Colômbia), (Evo) Morales (da Bolívia); Isso não depende de um líder, depende de um povo. A democracia é um caminho permanente de renovação e reforma. Ela não pode ser como pedra. Tem que ser como rios e mananciais. Mas esse processo não depende de mim. Isso é uma má interpretação da imprensa. Eu não posso reformar a Constituição, não é de minha competência. Caso contrário, eu estaria manipulando a Constituição. Meu governo termina em janeiro e não tenho oportunidade de fazer mais depois de meu período de governo.