O Brasil espera que a volta a Tegucigalpa do presidente Manuel Zelaya, refugiado na embaixada brasileira, permita uma "solução rápida" e seu retorno ao poder, declarou o ministro das Relações Exteriores Celso Amorim em Nova York.
"Esperamos que isso abra uma nova etapa nas discussões e que uma solução rápida, baseada no direito constitucional, possa ser alcançada", declarou Amorim em uma entrevista coletiva à imprensa em Nova York.
Sua presença "em Honduras certamente é um fato novo, que junto a várias medidas da comunidade internacional creio que facilitará um diálogo para que uma solução seja encontrada rapidamente", acrescentou.
Segundo Amorim, o "Brasil não teve nenhuma interferência" nos fatos que levaram à presença de Zelaya em sua embaixada, e apenas se limitou a conceder permissão para que ele entrasse na legação, algumas horas antes de sua chegada.
"O presidente disse que chegou a Honduras por meios próprios e pacíficos", indicou Amorim. "Declarou sua intenção de iniciar um diálogo com as forças políticas para que se possa chegar a uma solução rápida", acrescentou.
O anúncio do retorno pegou de surpresa o presidente de fato, Roberto Micheletti, que imediatamente tentou desmentir a presença de Zelaya.
Amorim indicou que havia entrado em contato com o secretário-geral da OEA (José Miguel Insulza) e com o governo norte-americano para afastar qualquer tipo de ameaça à segurança de Zelaya e aos funcionários da embaixada.
O Brasil rompeu relações diplomáticas com Honduras após o golpe de Estado e não tem contatos formais com o governo golpista.
Após ter sido derrubado por um golpe de Estado e deixar o país em 28 de junho passado, Zelaya já havia tentado voltar em duas oportunidades, de avião e por terra, pela fronteira com a Nicarágua.
Amorim insistiu que o retorno do presidente e seu refúgio na embaixada foi uma iniciativa de Zelaya, sem a intervenção brasileira. "Não planejamos nada".
O chanceler relatou que entre 40 minutos e uma hora antes dos fatos, "uma deputada hondurenha vinculada ao presidente Zelaya ligou dizendo que a esposa do presidente queria conversar com o encarregado de negócios".
"Informaram-nos que o presidente Zelaya estava nas imediações, nos perguntaram se podia vir à embaixada e demos a ele autorização", afirmou.
Segundo Amorim, a permissão de entrada de Zelaya na embaixada foi adotada no Itamaraty pelo subsecretário para a América Latina, Enio Cordeiro, responsável pelos critérios em vigor nessa chancelaria para esse tipo de situação.
"O governo brasileiro tem uma posição muito firme e muito sóbria", disse. "Não queríamos nos interpor a nenhuma outra ação".
Sobre o retorno de Zelaya ao poder, explicou que o Brasil quer "que isso ocorra rápida e pacificamente", para não ser necessário considerar uma eventual solicitação de asilo político do mandatário.
Amorim destacou ter informado, por telefone, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que nesta segunda-feira viajou a Nova York, onde participará da Assembleia Geral da ONU.
"Mantivemos uma posição de coerência, que sempre foi a de dar apoio ao retorno ao poder do presidente Zelaya, que é o presidente constitucional de Honduras e, como sempre, o que queremos é uma solução pacífica e rápida", concluiu.