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Relator da ONU critica ofensiva em Gaza

Para o norte-americano Richard Falk, relator especial para a Palestina junto ao Conselho dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), o comportamento das Forças de Defesa de Israel - durante a megaofensiva do início do ano na Faixa de Gaza - foi mais grave do que os crimes de guerra cometidos pelos militantes palestinos.

Em entrevista exclusiva ao Correio, por e-mail, o professor de direito internacional da Princeton University apontou falhas no Relatório Goldstone, documento apresentado ontem pela ONU. E afirmou que a operação militar desproporcional provocou um retrocesso em qualquer possibilidade de retomada das negociações de paz entre palestinos e israelenses.

Segundo o inquérito da ONU, tanto as forças de Israel como os militantes palestinos cometeram crimes de guerra durante a ofensiva contra a Faixa de Gaza, em janeiro passado. Como o senhor vê essa conclusão?
Eu acho que o Relatório Goldstone, preparado para apresentação no Conselho dos Direitos Humanos da ONU, em Genebra, foi correto ao examinar as alegações contra palestinos e israelenses. Eu creio que o documento deixa claro que, ainda que os foguetes disparados contra o território israelense tenham sido crimes de guerra, e que crime ainda mais sério foi o resultado do comportamento das Forças de Defesa de Israel durante os ataques a Gaza.

O inquérito atribui o termo "crime contra a humanidade" aos ataques com foguetes palestinos disparados pelos palestinos;
Os ataques de foguetes palestinos, sem a capacidade de atacar alvos militares, foram deliberadamente lançados contra civis. Por isso, são considerados crimes de guerra, mas não tiveram a intenção ou o impacto para causar danos sistemáticos e em massa para receberem a denominação de crime contra a humanidade. O Relatório Goldstone também falha em afirmar que os foguetes palestinos caíram a quase zero durante o cessar-fogo de 2008, e que o Hamas propôs a extensão indefinida da trégua. Os ataques israelenses em Gaza parecem ter usado a ameaça dos foguetes como um pretexto para esconder as reais motivações que eram contrárias à lei internacional.

Israel desqualificou o relatório, ao considerá-lo unilateral. De que modo o senhor analisa essa reação de Telavive?
A atitude deveria ser desconsiderada como estratagema de propaganda. A missão foi realizada por uma equipe de quatro especialistas respeitados, cada um deles com excelentes credenciais para a objetividade. Assim como o relatório recomenda, deveriam ser tomados passos para impor a responsabilidade dos líderes políticos e militares de Israel sobre esses crimes. A impunidade deles deveria ser levada ao fim por órgãos políticos da ONU, especialmente pelo Conselho de Segurança da ONU.
[SAIBAMAIS]
O que mudou no Oriente Médio desde o conflito em Gaza?
Os ataques a Gaza retrocederam qualquer crença de que um genuíno processo de paz possa ser estabelecido, apesar dos esforços de Washington em propor novas negociações. A continuação do bloqueio a Gaza, por si um flagrante crime de guerra associado à punição coletiva de magnitude qualificada como crime contra a humanidade, torna qualquer progresso rumo à paz passível de erro. Enquanto Israel se recusar a tratar o Hamas como um ator político, os palestinos não estarão representados em nenhum padrão diplomático, e os resultados não serão respeitados. Israel continua a expandir os assentamentos ilegais em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia, e se engaja em demolições cruéis de casas palestinas - um padrão incompatível com a busca pela paz entre os dois povos. Não haverá negociação de paz genuína até que os direitos palestinos sejam levados em conta.