Israel fez uso desproporcional de sua força durante o conflito com o Hamas na Faixa de Gaza e não tomou as precauções necessárias para poupar os civis, segundo um relatório de uma comissão investigadora da ONU.
O relatório foi apresentado nesta terça-feira em Nova York por Richard Goldstone, presidente da missão do Conselho de Direitos Humanos da ONU encarregado de investigar as supostas violações ocorridas durante o conflito.
O documento indicou que Israel violou o direito humano internacional durante a ofensiva em resposta ao lançamento de mísseis procedentes de Gaza, há oito meses.
"As operações militares em Gaza foram dirigidas por Israel contra o povo de Gaza em conjunto, segundo uma política de castigo para a população de Gaza, e em uma política deliberada de força desproporcional dirigida à população civil", segundo o relatório.
"Israel não adotou as precauções necessárias requeridas pelo direito internacional para limitar o número de civis mortos ou feridos nem os dados materiais", acrescentou.
O documento considerou que o disparo de obuses com fósforo branco e o uso de artilharia altamente explosiva eram violações à lei humanitária.
Israel se negou a cooperar com a comissão investigadora argumentando que esta é contra seu país.
Quase 1.400 palestinos e 13 israelenses morreram durante os enfrentamentos, entre 28 de dezembro de 2008 e 18 de janeiro, quando Israel invadiu Gaza com o argumento de tentar deter o lançamento de mísseis contra seu território.
A comissão de quatro membros concluiu que o exército de Israel pode ser considerado responsável por "crimes de guerra e, possivelmente, em algum sentido, de crimes contra a humanidade", afirmou Goldstone.
Numa reação imediata à divulgação do informe, Israel rejeitou as "conclusões parciais" da comissão da ONU.
"Israel não julgou útil cooperar com a missão da comissão Goldstone porque seu mandato é claramente parcial e ignora os milhares de ataques com foguetes do Hamas contra populações civis no sul de Israel que tornaram necessária a operação contra Gaza", indica um comunicado do ministério israelense das Relações Exteriores.
"O mandato da missão e a resolução que a estabeleceu prejulgaram os resultados da investigação, deram legitimidade à organização terrorista Hamas", disse a chancelaria.
"A estratégia do Hamas, que consiste em utilizar civis palestinos como escudos para lançar ataques terroristas, foi ignorada deliberadamente", acrescentou o ministério.
"Apesar destas reservas, Israel estudará o documento com cuidado, como ocorre com todos os documentos preparados pelas organizações nacionais e internacionais", prometeu a chancelaria, que destacou que as Forças Armadas israelenses abriram investigações sobre o comportamento de suas tropas em Gaza.
O movimento Hamas também denunciou o relatório da ONU como "político e desequilibrado".
"Trata-se de um relatório político, desequilibrado e desonesto à medida que acusa tanto os que cometem o crime quanto os que resistem", declarou à AFP um dirigente do grupo, Ismael Radwan.
A Anistia Internacional (AI), por sua vez, pediu à ONU que recorra à Corte Penal Penal Internacional (CPI) se Israel e o Hamas não realizarem investigações a fundo sobre o conflito de Gaza.
"O Conselho de Direitos Humanos deveria aprovar este informe e suas recomendações e pedir ao secretário-geral da ONU que o transmita ao Conselho de Segurança da ONU", pediu, em nome da AI, Donatella Rovera, que investigou a ofensiva em Gaza para a organização de defesa dos direitos humanos.