O ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Dick Cheney, considerou nesta sexta-feira "escandalosa" a investigação preliminar aberta contra agentes da CIA pelos métodos violentos utilizados durante interrogatórios antiterroristas durante a era Bush.
Durante entrevista no programa de televisão Fox News Sunday, que será divulgada neste final de semana, Cheney declarou que a longo prazo a investigação prejudicará a capacidade do país de se defender.
Os Estados Unidos haviam decidido designar um procurador especial para investigar os métodos, que incluíam várias formas de tortura.
"Concluí que as informações disponíveis justificam a abertura de uma investigação preliminar para saber se as leis federais foram violadas durante os interrogatórios de alguns detidos fora dos Estados Unidos", afirmou na segunda-feira o procurador-geral Eric Holder, ao confiar o trabalho a um procurador especial, John Durham, um funcionário de carreira.
A decisão foi adotada após a divulgação de um relatório do ex-inspetor-geral da CIA John Helgerson, que revela a violência cometida contra pessoas detidas pela agência.
Segundo o relatório Helgerson, que teve muitas páginas censuradas, o principal suspeito do atentado contra o navio americano USS Cole em 2000, Abdel Rahim al-Nachiri, foi ameaçado com um revólver e, depois, com uma furadeira elétrica na cabeça, que era ligada e desligada durante os interrogatórios.
Os interrogadores também davam a entender que poderiam estuprar sua mãe na sua frente: "Podemos trazer sua mãe aqui agora. Podemos trazer sua família toda aqui".
Al-Nachiri, detido em novembro de 2002 e mantido durante quatro anos em uma prisão secreta da CIA, também foi submetido a simulações de afogamento ("submarino"), uma prática amplamente reconhecida como tortura.
O relatório narra ainda como os agentes da CIA ameaçaram Khaled Sheikh Mohammed, considerado o cérebro dos atentados do 11 de Setembro: matar seus filhos se ele não falasse.
Mohammed esteve em prisões secretas da CIA até 2006, antes de ser enviado ao centro de detenção de Guantánamo, em Cuba.
Documentos mais antigos revelam que Mohammed foi submetido ao "submarino" por mais de 180 vezes.
O relatório mostra o temor de um agente da CIA de "entrar para a lista dos mais procurados" e ter que depor em um tribunal sob a acusação de crimes de guerra pelo que fez nos interrogatórios.
Um dos torturadores estima que "dentro de dez anos nos arrependeremos por fazer isto (...), mas é algo que precisamos fazer".
Apesar da tortura, Helgerson reconhece os resultados das chamadas Técnicas Reforçadas de Interrogatório, que "permitiram a identificação e a detenção de outros terroristas, e impediram outros complôs terroristas nos Estados Unidos e em todo o mundo".