Os chefes de Estado da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), reunidos nesta sexta-feira em Bariloche, pediram que o presidente Barack Obama esclareça seu acordo militar com a Colômbia que implica a presença de tropas dos Estados Unidos em território sul-americano.
Brasil, Argentina, Equador e Peru foram as nações que pediram com mais ênfase explicações sobre os alcances desse acordo, e o presidente Luiz Inacio Lula da Silva chegou a requisitar polidamente a seu colega colombiano, Alvaro Uribe, garantias de que as operações ficarão limitadas a seu território.
"Respeitamos a soberania de cada país. Mas queremos nos resguardar, seria importante que no tratado existam garantias jurídicas ou um foro internacional em relação a isso", afirmou Lula em sua intervenção no encontro realizado no Hotel Llao Llao.
"A existência dessas garantias", afirmou o presidente brasileiro, "implicaria a presença de instrumentos que nos assegurem que a presença militar dos Estados Unidos é algo específico ao territorio colombiano. Porque o acordo não proíbe isso. E o que não proíbe algo, o permite".
A Colômbia, por sua vez, reafirmou que o uso de tropas estrangeiras é um ato soberano.
Já Rafael Correa, presidente do Equador e presidente pro tempore da Unasul, apresentou uma moção para pedir explicações a Obama e ao Pentágono em uma próxima cúpula.
Lula recordou que já falou com o presidente Obama sobre esta questão e explicou a ele o nível de sensibilidade que existe em torno do acordo com a Colômbia e sua repercussão na região.
"Disse ao presidente Obama que era importante que possamos discutir estas questões, talvez de forma paralela à Assembleia da ONU. Mas há problemas de agenda. Eu creio que devemos ter uma boa discussão com o presidente Obama sobre o papel dos Estados Unidos na região", enfatizou.
Obama descartou um convite de Lula para assistir o encontro ao assinalar que conversará com ele na próxima cúpula do G20 em Pittsburg, mas a Casa Branca enviou na última semana um enviado para transmitir mensagens tranquilizadoras ao Brasil, Argentina e Uruguai.
O encontro a portas abertas durou mais de cinco horas, durante as quais o Equador, a Venezuela e a Bolívia mantiveram sua postura mais radical, de total recuja à presença militar americana.
Mas os governos mais moderados, como Chile, Paraguai e Peru também deixaram claro que é preciso uma transparência nos assuntos de segurança, num momento em que a Colômbia abre sete de suas bases a tropas americanas, quando o gasto da defesa regional superou os 50 bilhões de dólares anuais.
"Acho que é uma boa oportunidade de colocar as cartas na mesa e dizer do que se trata este acordo com os Estados Unidos, de que bases ou apoio estamos falando, que presença é essa", afirmou o presidente peruano Alan García.
Uribe esteve naturalmente no olho do furacão e, em uma de suas inúmeras intervenções, disse que o "acesso dos Estados Unidos para ajudar a Colômbia na luta contra o narcoterrorismo se faz sem renunciar à soberania nem um milímetro de seu território".
Um primeiro indício de consenso foi demonstrado na abertura da sessão de trabalho, quando a presidente anfitriã, a argentina Cristina Kirchner, pediu que se fixe uma doutrina comum frente à instalação de bases de um país alheio à região.
Já o presidente venezuelano Hugo Chávez insistiu em sua retórica já conhecida e denunciou que o uso de bases militares na Colômbia faz parte de uma estratégia global de guerra idealizada pelos Estados Unidos.
"A estratégia global de dominação dos Estados Unidos é a razão pela qual estão instalando essas bases na Colômbia", disse Chávez.
Mas Chávez defendeu a proposta de seu colega brasileiro de que a cúpula deveria ter sido realizada na presença de Obama.
A onda de preocupação também foi acompanhada por estatísticas sobre gastos militares na região, em que o Brasil está comprando da França submarinos - um deles nuclear - e renova seus caças, enquanto que a Colômbia recebe a maior ajuda militar dos Estados Unidos depois de Israel e Egito.
A Bolívia, apesar de estar mergulhada na pobreza, investe 100 milhões de dólares em sua segurança e a Venezuela gastou 4,4 bilhões de dólares em aviões, helicópteros e fuzis.