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Apesar das ameaças, candidata afegã Natbibi Omary se mantém firme

Apesar da escalada da violência do Afeganistão e das ameaças constantes dos talibãs, a candidata Natbibi Omary afirma que não desistirá das eleições provinciais que ocorrerão nesta quinta-feira (20/8). A conselheira provincial busca um novo mandato porque "a situação está crítica e, se não ocuparmos o país, ele vai desmoronar". Sua cidade, Khost, próxima da fronteira com o Paquistão, já sofreu com inúmeros ataques suicidas e assassinatos. Todas as noites são coladas nas paredes da cidade cartazes ameaçando eleitores com retaliações. A província sofre com ataques da organização do ex-mujahedin Jalaludin Haqani, um herói da resistência contra os soviéticos na década de 1980, aliado ao Talibã em 1996 e agora apoiado pela Al Qaeda. Mesmo sem os ataques, Omary afirma que "o trabalho já é difícil". "Representar o povo no governo, tentar cuidar das viúvas, após três décadas de guerra e, acima de tudo, insistir que as pessoas mandem seus filhos para a escola", apesar das ameaças, são alguns dos desafios que a candidata ressalta. "Dizemos aos talibãs que o conhecimento deve ser dado aos homens e às mulheres", acrescenta. Mas em Khost até mesmo uma mulher como Omary Natbibi deve usar a burca na rua, tirada rapidamente quando chega em casa, deixando à vista a maquiagem discreta. Quando lhe perguntam a idade, a mulher de cerca de quarenta anos foge da resposta com um sorriso. "A maior parte das ameaças são porque eu sou mulher. Muitas mulheres são ameaçadas aqui por que trabalham", diz. Omary afirma ainda que seu marido costuma a receber ligações ordenando que ele mantenha sua mulher em casa e mesmo que ela será decapitada se continuar trabalhando. Quando se candidatou pela primeira vez nas eleições provinciais de 2005, sua família se opôs. "Mesmo hoje, um dos meus cunhados desliga a TV quando eu apareço. Felizmente o meu marido é um homem bom", diz a candidata. Seu marido, um ex-soldado, e seu filho, acompanham Omary durante a entrevista, ambos com um rifle Kalashnikov na mão. "Quando eu saio, estão sempre comigo", assim como alguns policiais, conclui. E tanta precaução tem razão: "Por minha causa, dois irmãos do meu marido morreram e uma bomba arrancou a perna de meu sobrinho", recorda.