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General americano troca informações com o Brasil sobre bases na Colômbia

Um dia depois de ter conversado com o presidente venezuelano, Hugo Chávez, o assessor do presidente Lula para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, ouviu ontem do assessor de Segurança Nacional de Barack Obama, general James Jones, a versão oficial americana sobre as bases que serão usadas pelos Estados Unidos na Colômbia. Para Garcia, ficou evidente o reconhecimento de Washington de %u201Cque o assunto foi mal encaminhado%u201D, e de que o acordo militar entre os dois países %u201Cnão está fechado%u201D. O governo brasileiro, porém, espera conhecer mais detalhes sobre o acordo amanhã, quando Lula receberá o colega colombiano, Álvaro Uribe. O presidente pedirá ao visitante que compareça à cúpula da União de Nações Sul-americanas (Unasul), na próxima segunda-feira, em Quito. %u201CAcho que houve um reconhecimento (%u2026) de que talvez tivesse sido mais oportuno, da parte dos governos americano e colombiano, um esclarecimento prévio que pudesse dissipar todas as dúvidas sobre a natureza dessas bases e seu alcance%u201D, disse Garcia ao fim do encontro com o general, em quem percebeu um nível %u201Cmuito grande%u201D de %u201Cabertura%u201D. Jones reiterou que não aumentará o efetivo americano no país vizinho e que as bases ficarão sob controle colombiano, mas Garcia deixou transparecer que restam focos de desconfiança. %u201CO general procurou circunscrevê-las (as bases) a ações de caráter comunitário, de combate ao narcotráfico, mas, como vocês sabem, cachorro que foi mordido por cobra tem medo até de linguiça%u201D, comparou. O assessor da presidência considera que, embora não acredite que o acordo EUA-Colômbia ameace a soberania do Brasil, o estabelecimento de bases %u201Ccujo alcance e objetivos não estão muito claros%u201D, perto da fronteira com a Amazônia, não é positivo. Em breve declaração à imprensa, Jones disse que, após sua visita, o governo brasileiro terá %u201Cuma boa explicação e um resultado satisfatório%u201D. %u201C(Isso) não vai interferir, de forma alguma, na nossa amizade, cooperação e nos assuntos de interesse mútuo%u201D, afirmou o general. O general americano se reuniu também com os ministros da Defesa, Nelson Jobim, de Minas e Energia, Edison Lobão, e da Casa Civil, Dilma Roussef, além do comandante da Aeronáutica, Juniti Saito. Hoje, será recebido pelo chanceler Celso Amorim. Em aberto Para Garcia, o fato de Uribe ter a %u201Csensibilidade%u201D de viajar pela região para dar explicações %u2014 ele começou ontem uma série de visitas ao Peru, Bolívia, Brasil, Chile e Argentina %u2014 e a abertura do próprio general Jones durante o encontro mostram que a decisão sobre as bases %u201Cnão está tão tomada assim%u201D. %u201CImagino que há uma preocupação, da parte do governo americano, em relação aos países amigos, em saber qual é a opinião%u201D, disse o assessor, que aproveitou o encontro para reforçar a posição brasileira sobre a questão de Honduras(1). Novas informações sobre o acordo entre Washington e Bogotá, porém, indicam que a presença militar americana aumentará. O comandante das Forças Militares da Colômbia, general Freddy Padilla, afirmou ontem que serão sete %u2014 e não apenas três, como se informou inicialmente %u2014 as bases às quais os EUA terão acesso operacional. O anúncio foi feito durante encontro com altos oficiais de 10 países, inclusive o chefe do Comando Sul norte-americano, general Douglas Fraser. Venezuela e Equador, que acusam o país vizinho de ameaçar a segurança regional, não estavam presentes. Padilla insistiu em que o alvo da cooperação são %u201Cas atividades ilegais das organizações terroristas e dos narcotraficantes%u201D. A revelação do comandante militar colombiano tende a alimentar as desconfianças dos presidentes Hugo Chávez, da Venezuela, e Rafael Correa, do Equador, ambos com as relações bilaterais congeladas com Bogotá. Desde as primeiras notícias sobre o acordo militar, Chávez denunciou uma %u201Coperação de cerco%u201D contra seu país e uma ameaça potencial de %u201Cinvasão gringa%u201D. Na configuração detalhada pelo general Padilla, a Colômbia abrirá para os EUA as bases aéreas de Malambo (norte), Palanquero (centro) e Apiay (leste); as bases navais de Cartagena (Caribe) e Bahía Málaga (Pacífico); e as bases terrestres de Tolemaida (centro) e Larandia (sul). A última é vizinha de Tres Esquinas, base-piloto do Plano Colômbia, onde militares americanos operam radares desde 2000. 1 - RECEPÇÃO À ALTURA O assessor para assuntos internacionais do governo brasileiro, Marco Aurélio Garcia, confirmou ontem a vinda de Manuel Zelaya, presidente deposto de Honduras, ao Brasil no próximo dia 12. Segundo Garcia, o hondurenho será recebido como chefe de Estado. Na conversa sobre as bases na Colômbia com o general norte-americano James Jones, Garcia pediu uma %u201Catitude mais firme%u201D da Casa Branca nos esforços pela restituição de Zelaya ao poder.