O ex-presidente reformista iraniano Mohamad Khatami denunciou neste domingo que o julgamento de cem manifestantes acusados de participar dos protestos contra a reeleição do presidente, Mahmud Ahmadinejad, fere a letra da Constituição do país.
Alguns réus demonstraram arrependimento por seus atos.
"Até onde sei, o que aconteceu ontem (sábado) vai contra a Constituição, a lei e os direitos dos cidadãos", declarou Khatami durante uma reunião com dirigentes políticos e deputados, segundo um comunicado divulgado neste domingo por seu gabinete.
O tribunal revolucionário de Teerã começou no sábado a julgar uma centena de pessoas, entre as quais há várias figuras do campo reformista, acusadas de participar das manifestações que mobilizaram milhões de iranianos revoltados com as denúncias de fraude após as eleições presidenciais de 12 de junho.
Acusados de perturbar a ordem pública e colocar em risco a segurança nacional, eles podem ser condenados a até cinco anos de prisão, segundo a agência iraniana Fars. Se foram considerados "mohareb" (inimigos de Deus) pelo júri, podem ser sentenciados à morte.
"Este tipo de ato é, acima de tudo, contrário aos interesses do regime e afeta a confiança da opinião pública", acrescentou.
Khatami também afirmou que o tribunal estava se baseando em "confissões obtidas sob certas condições que não têm nenhuma credibilidade".
"O maior problema com este processo judicial é que não foi feito a portas abertas. Os advogados e acusados não foram informados sobre o conteúdo dos autos antes do julgamento", afirmou.
"Não acredito que o chefe da autoridade judicial, o aiatolá (Mahmud Hachemi) Chahrudi, esteja de acordo com o que ocorreu", estimou Khatami.
Alguns meios oficiais iranianos tiveram acesso à audiência, mas o mesmo não ocorreu com nenhum outro veículo da imprensa.
Vários acusados, entre eles um importante representante do movimento reformista, o ex-vice-presidente Mohammad Ali Abtahi, afirmaram na audiência do sábado que se equivocaram ao apoiar o movimento de protesto contra a reeleição de Ahmadinejad.
Abtahi se declarou arrependido por ter participado das manifestações, afirmando que, ao contrário do que afirmava antes em consonância com o movimento reformista liderado por Mir Hossein Moussavi, as eleições não foram fraudadas.
O jornal Etemad Melli, pertencente ao opositor e ex-candidato à presidência Mehdi Karubi (para quem Abtahi trabalhou durante a campanha eleitoral como assessor), estampou na primeira página deste domingo a manchete "As confissões não têm nenhum valor".
A mulher de Abtahi, Fahimeh Musavinejad, declarou no site do Etemad Melli que seu marido "não estava em um estado normal" durante o julgamento.