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Governo de Raúl Castro adia Congresso do Partido Comunista e sinaliza mais mudanças na economia

Há três anos sem Fidel Castro na liderança de Cuba, o irmão Raúl, que assumiu o comando da ilha, busca saídas para driblar a crise financeira internacional, o bloqueio norte-americano e os efeitos dos furacões que assolaram o país no ano passado. Na quarta-feira passada, 29 de julho, o Comitê Central do Partido Comunista de Cuba (PCC) decidiu fazer ajustes na economia, manter a política de defesa e adiar o Congresso do Partido Comunista (1).

;É (caso) de segurança nacional produzir no país;, alertou Raúl, na semana passada, em discurso para mais de 200 mil pessoas que madrugaram para vê-lo na praça Calixto García de Holguín, a 734km de Havana. O líder destacou ao povo que não basta gritar ;pátria ou morte, abaixo o imperialismo;, mas preciso voltar ao campo, produzir mais e gastar menos na importação de alimentos. Hoje, o país compra do exterior mais de 70% dos alimentos que consome. ;O bloqueio nos golpeia e a terra está aí, esperando por nosso suor;, destacou, explicando que os lotes que não servirem para agricultura deverão receber árvores. O cubano reclamou que funcionários do Ministério da Agricultura pedem milhões de pesos para tomar uma atitude. ;Não sei como faziam os nossos avós;, ironizou o general.

Uma fonte da diplomacia cubana contou ao Correio que, nos últimos anos, Raúl já vinha alertando sobre a ;necessidade de voltar à terra;, uma vez que mais da metade das áreas cultiváveis estão ociosas. A ideia é economizar nas importações agrícolas e liberar divisas para investir no avanço industrial. Atualmente, todas as famílias com crianças até 7 anos compram um litro de leite subsidiado por 0,25 centavos de peso cubano ou US$ 0,1. O litro do iogurte para as crianças de 7 a 13 anos sai por 0,80 centavos de peso cubano. O Estado ainda oferece gratuitamente as refeições nas escolas, nos hospitais e para os trabalhadores públicos. O governo acredita que um aumento da produção poderia levar a uma diminuição nos preços dos alimentos no mercado interno e talvez até a uma possível redução dos subsídios ; que teria ainda que ser estudada com a população.

Papel brasileiro

O governo cubano reconhece que o Brasil desempenha um papel-chave nessa transformação econômica. Por meio dos programas de cooperação com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Cuba está otimista no desenvolvimento de sementes e cultivos melhorados e, consequentemente, colheitas mais fartas. Com as ofertas de crédito brasileiro obtidas na segunda visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em janeiro de 2008, a ilha também investiu em novas colheitadeiras de arroz. Desde o início do governo Lula, o comércio bilateral entre os dois países aumentou de US$ 100 milhões para US$ 600 milhões, e Cuba espera incrementar ainda mais essa relação.

Outro ponto fundamental está na questão energética. Na última visita de Lula ao regime castrista, em janeiro deste ano, o presidente brasileiro conseguiu sinal verde para levar a Petrobras a explorar as águas costeiras da ilha. Assim, o governo cubano garante os investimentos em petróleo para os quais não teria capital para realizar sozinho, o parceiro estrangeiro banca o risco e, caso encontre o recurso mineral, os benefícios são divididos entre ambos. A estratégia já vem funcionando há oito anos com sócios de outras nacionalidades, como empresas canadenses, e permitiu que a ilha aumentasse a produção de petróleo de 300 mil para 5 milhões de toneladas.

A cooperação bilateral se enquadra no movimento de integração regional. No início de julho deste ano, o ministro brasileiro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, em visita ao governo de Havana, lembrou que Cuba ;se insere de maneira muito forte; na estratégia de Brasília de se aproximar dos países do Caribe, América Latina e África.


1 - PRIMEIRA VEZ
O Congresso serve para definir o rumo do sistema comunista e desta vez decidirá se Fidel continuará como chefe da única força política da ilha. Segundo o jornal oficial Granma, ainda não há uma nova data para a realização do encontro, mas é a primeira vez em 12 anos que a reunião é adiada.

Discussão sobre direitos humanos aumenta tensão

O bloqueio econômico norte-americano continua a ter duras consequências para Cuba e a alimentar uma troca aparentemente interminável de cotoveladas entre os governos. Dispostos a exportar seus valores de liberdade econômica e democracia, os americanos fecham os olhos para outros princípios que vigoram na ilha: a solidariedade em detrimento da sociedade de consumo. ;Não negamos o consumo, mas outra coisa é a sociedade consumista. Temos valores que consideramos mais importantes;, resume um funcionário cubano.

O respeito aos direitos humanos é outro tema que divide os dois países. No momento, tanto Cuba quanto os Estados Unidos reclamam a liberdade de cinco presos. O presidente Barack Obama reiterou neste mês sua ;sincera esperança; de que todos os presos por motivos políticos sejam libertados em Cuba e pediu principalmente pela liberdade dos ganhadores de um prêmio oferecido pelo Congresso americano ; os dissidentes do regime Jorge Luis García Pérez, José Daniel Ferrer García, Librado Linares, Ivan Hernández Carrillo e Iris Tamara Pérez Aguilera.

Por outro lado, o presidente do Parlamento cubano, Ricardo Alarcón, afirmou que Obama pode e deve libertar cinco cubanos presos ilegalmente nos Estados Unidos, acusados de espionagem. Alarcón declarou neste mês que, enquanto eles estiverem presos, será impossível a existência de uma relação normal entre Estados Unidos e Cuba, uma vez que ficará demonstrado que os Estados Unidos continuam favorecendo o terrorismo contra a ilha. Alarcón destacou ainda que, no caso de três deles, Fernando González, Ramón Labañino e Antonio Guerrero, a Corte de Apelações deixou sem vigência as sentenças ditadas injustamente. O cubano entende que deveria se estender o mesmo reconhecimento e depois aos outros dois presos, Gerardo Hernández e René González. (VV)