Acusado de ter repassado à guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) um lote de lançadores de foguetes de fabricação sueca, o governo venezuelano do presidente Hugo Chávez tenta agora envolver a comunidade internacional numa campanha para cobrar explicações de Bogotá sobre o possível uso de bases militares colombianas pelos Estados Unidos.
O embaixador venezuelano em Bogotá, Gustavo Márquez, chamado de volta por Chávez na quarta-feira, afirmou que o aumento da presença militar norte-americana na região não ameaça só a Venezuela, mas todos os países sul-americanos. Para ele, o tema deve ser levado à Organização dos Estados Americanos (OEA), e a instâncias como a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e o Grupo do Rio.
A chancelaria venezuelana emitiu um comunicado negando que o governo do presidente colombiano, Álvaro Uribe, tivesse pedido no ano passado à Venezuela uma explicação sobre as armas achadas em poder das Farc. Bogotá afirmou ter encaminhado discretamente um novo pedido de explicações em junho, sem, de novo, receber uma resposta.
"Por que não exigem de Israel ou dos EUA explicações sobre a grande quantidade de armas desses países encontrada com grupos armados colombianos", dizia a nota venezuelana, rejeitando a acusação de que tivesse enviado as armas às Farc. "A Colômbia converteu-se num país belicista que, com um governo incapaz de controlar seu território, decidiu cedê-lo em comodato para a maior potencia militar do planeta, o que se constitui numa ameaça para toda a região".
Brasil e Chile
Ontem, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e a presidente chilena, Michelle Bachelet, pediram que o acordo militar que viabilizaria o uso de bases militares colombianas pelos EUA seja levado para uma discussão regional na Unasul. "Eu posso dizer que, a mim, não agrada mais uma base americana na Colômbia. A mim não agrada", disse, um dia depois de conversar por telefone com Chávez.
Bachelet foi mais discreta. Ela disse concordar com as afirmações do presidente brasileiro, mas não manifestou abertamente uma posição sobre a negociação entre colombianos e norte-americanos. "Nós respeitamos a soberania de cada país e as decisões que tomam. Mas a reunião da Unasul será um momento oportuno para avaliarmos de que forma essas decisões podem afetar decisões de todos", afirmou.