Ao contrário da visita do ministro das Relações Exteriores de Israel, Avigdor Lieberman, ao Brasil, na última semana, a passagem do chanceler egípcio, Ahmed Aboul Gheit, foi marcada por uma total sintonia entre anfitrião e convidado. Além de concordarem em pontos fundamentais do processo de paz entre israelenses e palestinos, os dois governos trocaram elogios e declarações positivas - como uma de Gheit, ao afirmar que o Brasil "será um membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas".
Segundo o chanceler egípcio, o governo brasileiro pode, de fato, ter um papel importante na resolução do conflito israelo-palestino. Ele acredita ainda que o processo de paz tem condições de avançar mesmo com um governo israelense mais conservador. "Temos, de fato, um governo israelense com posições mais à direita, mas também temos uma nova administração norte-americana, que está determinada a avançar", afirmou. Em encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gheit confirmou a intenção do colega egípcio, Hosni Mubarak, de vir ao Brasil ainda este ano.
O governo brasileiro tem se mostrado disposto a contribuir no processo de paz entre israelenses e palestinos. Mas de que forma o Brasil poderia, de fato, ajudar?
O Brasil é um grande país, que tem muitos recursos, e que será um membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Se o Brasil se oferecer para ajudar nos esforços de paz e contribuir com recursos, soldados ou dinheiro para ajudar a estabilizar o Oriente Médio, isso seria lembrado por gerações. Esperamos que o Brasil possa assumir o compromisso de participar da força multinacional que está no Egito, assegurando a implementação do acordo de paz entre Egito e Israel. Seu país também é hoje o ponto vital do diálogo entre árabes e latino-americanos, e entre a África e a América Latina - que é muito importante para consolidar as relações Sul-Sul. Então, se o Brasil desempenha esse papel, também pode ajudar a avançar o processo de paz no Oriente Médio.
Qual a real possibilidade de avanço no processo de paz com o novo governo israelense, formado, em sua maioria, por conservadores?
O processo de paz passa hoje por um momento muito sensível. Temos, de fato, um governo israelense com posições mais à direita, mas também temos uma nova administração norte-americana, determinada a avançar. O governo egípcio tem mantido o diálogo com ambos - o governo israelense, ao qual temos pedido que modere suas posições e demonstre flexibilidade, e o americano, que tem preparado uma ação para incentivar as negociações, a ser implementada este ano. Com a nossa assistência e a ajuda de outras forças, como o Brasil, estamos esperançosos de, antes do fim do ano, iniciarmos novas negociações entre israelenses e palestinos, que deverão considerar o congelamento no avanço dos assentamentos e a delimitação das fronteiras.
O senhor acredita que Barack Obama tem sido mais incisivo com Israel do que seu antecessor?
A questão não é ele ser mais incisivo, mas sim ser mais determinado a avançar. E, com esse tipo de determinação, eu espero que os israelenses escutem.
Seu governo tem um papel muito importante na negociação entre grupos palestinos. Qual é o maior desafio na reunificação?
Dois fatores estão obstruindo o processo de reunificação. O primeiro é o interesse muito limitado das próprias facções palestinas - cada uma delas quer proteger a si própria, algumas vezes até com um prejuízo para a causa palestina. O outro é a intervenção de fatores externos, que tem encorajado os palestinos a tomarem posições que não são para o benefício da população palestina.
Israel e os EUA têm feito um grande esforço para convencer outros países árabes, como Egito e Jordânia, de que eles enfrentam uma ameaça comum: o Irã. Esse é o problema mais imediato na região?
Nós consideramos que o problema principal no Oriente Médio é a falta de uma resolução para a questão palestina. Israel está ocupando territórios palestinos e esta é a razão da raiva de países árabes e muçulmanos. Irã é um outro assunto, que terá de ser tratado sob o ponto de vista de prevenção da disseminação das armas de destruição em massa e da proliferação de armas nucleares. Esperamos que o Irã e o Ocidente negociem um acordo próprio para essa questão, um acordo que assegure o direito ao Irã do uso pacífico de energia nuclear e, ao mesmo tempo, não permita a proliferação de armas nucleares na região. Nós também estamos pedindo que Israel seja signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear. Se Israel fizer isso, então a ameaça da proliferação nuclear nessa região desaparecerá.