A crise política em Honduras virou uma novela política que não deve acabar tão cedo. Dois pontos do Acordo de San José, foram rejeitados por membros do Congresso hondurenho e do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE): a anistia e o antecipamento das eleições. Na segunda-feira, o TSE considerou "arriscado" remarcar as eleições, previstas para o último domingo de novembro. O magistrado Enrique Ortez Sequeira destacou que se colocaria em risco "o processo de transparência e de credibilidade, e também o cronograma eleitoral". O órgão anunciou ontem que já recebeu as propostas de orçamento de 15 empresas para imprimir 13,5 milhões cédulas eleitorais.
[SAIBAMAIS]Vários deputados recusaram na segunda-feira a proposta de anistia para os supostos crimes cometidos pelo presidente deposto, Manuel Zelaya, e seu retorno ao país. Quando o secretário do Congresso, Carlos Lara, começou a ler o acordo, o liberal Wenceslao Lara levantou um cartaz estampando a foto do ex-ministro da Presidência, Enrique Flores Lanza, com a mensagem: "Anistia jamais! Impunidade nunca mais". O ato foi aplaudido pela maioria dos deputados presentes, um claro sinal de que haverá problemas para aprovar o texto, que precisaria de maioria simples (65 dos 128 deputados).
Ontem, a presidência da instituição passou o tema para ser estudado por uma comissão especial de deputados. O ministro de governo, Óscar Raúl Matute Cruz, pediu aos legisladores que se pronunciem com "a maior brevidade possível, dadas a importância e a transcendência do caso". O presidente do Congresso, Alfredo Saavedra, espera que a decisão seja divulgada amanhã. Por outro lado, Celín Discua Elvir, subcoordenador da bancada nacionalista, destacou que "não faz sentido que o Congresso se pronuncie quando uma das partes interessadas, a do ex-presidente Zelaya, declarou fracassada a mediação".
Resistência
Na fronteira com a Nicarágua, Zelaya organiza a "resistência" nas montanhas do município nicaraguense de Ocotal. Sua mulher, Xiomara Castro, finalmente conseguiu um habeas corpus da Corte Suprema de Justiça do país e poderá cruzar a fronteira para se encontrar com o marido. Há cinco dias, ela, os filhos, a mãe e a sogra aguardam na região de El Paraíso, bloqueados por oficiais da polícia e das Forças Armadas.
Na Nicarágua, o deputado da Bancada Democrática Nicaragüense (BDN), Eduardo Montealegre, liderou uma delegação de oposição do país para se reunir com o governo de fato de Honduras. Outro grupo de cinco deputados da BDN viajou a Ocotal, norte da Nicarágua, para entregar uma carta de repúdio a Zelaya.
Os políticos enfrentaram um bloqueio de simpatizantes do hondurenho na estrada. Em Washington, o Departamento de Estado cancelou os vistos de quatro membros do governo interino. "É parte de nossa política com relação ao governo de fato", disse Ian Kelly, porta-voz da chancelaria.